Na Babilônia, quando um sapateiro ou um ferreiro queria oferecer seus serviços, escrevia no muro. Essas pinturas eram feitas por diferentes tipos de profissionais e são os primeiros registros encontrados de publicidade, datados de 3000 a.C. Depois, nos séculos que antecedem a era cristã, vieram os cartazes, pendurados nas praças da Roma antiga, anunciando apartamentos para alugar – uma espécie de antepassado arqueológico do outdoor.

Já os primeiros garotos propaganda surgiram na Idade Média: arautos que gritavam notícias da nobreza e também eram pagos para divulgar as ofertas dos mercadores. Durante séculos, a publicidade se manteve assim, rudimentar e com baixíssimo alcance. Um produto ou serviço só conseguia se tornar conhecido por pouco mais de algumas centenas de pessoas. Até o século 15, quando a propaganda deu um salto.

Um arauto com uma tropa de soldados escoceses Wikimedia Commons

A invenção da imprensa, por volta de 1450, multiplicou cartazes e panfletos, ampliando o impacto das mensagens publicitárias. Daí para a frente, o mercado consolidou uma indústria criativa, produtora de símbolos culturais, capaz de induzir comportamentos, ódios, amores e manias.

A alma do negócio

Surgidos no século 17, na Europa, os jornais abriram espaço para a propaganda alcançar ainda mais pessoas que os cartazes ou folhetos impressos. Apesar de ter nascido na Europa e provavelmente existido em todas as civilizações antigas, a publicidade ganhou impulso mesmo na Era Industrial, nos Estados Unidos. Com a produção de mercadorias em larga escala, veio a necessidade de educar o público a consumi-las. Surgiram, então, na Europa e nos Estados Unidos do século 19, as primeiras agências de publicidade, ditando uma nova linguagem, pautada no humor, na ironia e no que mais despertasse o interesse dos consumidores. A propaganda virou “a alma do negócio”.

A primeira empresa chamada oficialmente de “agência de publicidade” começou a funcionar em 1841, quando Volney B. Palmer abriu seu escritório na Filadélfia. O ano é um dos marcos do nascimento da publicidade moderna, quando bens de consumo começaram a ser vistos como ícones culturais. Os “agentes” contratavam, dos jornais, grandes espaços nas páginas, com desconto. E os revendiam a preços mais altos aos anunciantes, que produziam eles próprios suas propagandas.

Esse sistema durou até 1869, quando Francis Ayer, após comprar a Palmer, resolveu mudar o jeito de trabalhar. Ele revendia o espaço pelo mesmo valor cobrado pelo jornal, mediante uma comissão pré-acordada com o cliente. Nascia o modelo de negócio que até hoje mantém a publicidade rentável. Em pouco tempo, Ayer estava também fazendo pesquisa de mercado e escrevendo os anúncios.

Em 1877, James Walter Thompson abriria uma das mais antigas agência dos Estados Unidos. E levou a sério essa produção, contratando artistas e escritores para o primeiro departamento de criação da História. Por isso, é considerado “o pai da publicidade moderna”.

Grão de cacau

Apesar da força dos Estados Unidos ao longo de toda a trajetória da publicidade, muitos de seus momentos importantes estão ligados à Publicis, uma gigante na área de comunicação, fundada em 1926, na França, por Marcel Bleustein-Blanchet. Nos anos 70, a empresa se uniu a agências que já haviam conquistado grande parte do segmento, nos Estados Unidos.

De acordo com Stéphane Pincas e Marc Loiseau na obra A History of Advertising (“Uma história da propaganda”), a primeira campanha da Coca-Cola, que usava a seta como principal símbolo (“siga a seta”) merece um grande destaque. Apenas no ano de 1915 a garrafa ganhou a forma que a consagrou, inspirada na foto de um grão de cacau, publicada na Enciclopédia Britânica.

Campanha vintage da Coca-Cola Reprodução

O fabricante queria um design tão único que fosse reconhecido até quando a garrafa estivesse aos cacos, quebrada. O resultado foi mais que satisfatório e as garrafas passaram a ter espaço garantido nos anúncios, fazendo do produto um item de primeira necessidade para a família americana e um símbolo do sistema (a “água negra do capitalismo”).

Além disso, os cigarros Camel, que, antes da era do politicamente correto, também virariam um ícone cultural graças ao talento de um grupo de publicitários. Em 1913, a pioneira N.W. Ayer & Son foi incumbida de lançar um produto da R.J. Reynolds: uma mistura de tabaco de origem turca e americana. A equipe de criação buscou inspiração na foto do dromedário Ol’ Joe, atração de um circo que passava pela cidade. E a imagem virou o logotipo da marca.

Os antigos cigarros Camel Reprodução

Os tempos eram outros. O American Meat Institute (Instituto Americano da Carne), associação da indústria de embalagem e processamento de produtos à base de carnes, foi, durante anos, um dos maiores orçamentos do mercado publicitário dos Estados Unidos, reunindo muitos criadores de gado. Em 1944, dois funcionários da Leo Burnett passaram cinco semanas viajando pelo país, conversando com produtores e consumidores, até chegarem à campanha “Meat”, que valorizava o potencial nutritivo da carne vermelha. Os anúncios faziam uso dramático da cor vermelha, com fotos de pedaços de carne em tamanho quase natural.

De lá para cá, a publicidade ainda se reinventaria várias vezes, atravessando meios de comunicação de massa como a internet. E o que um dia foi estritamente informativo ganhou abordagem criativa.

Orgulho e vergonha

No sentindo orgulho e vergonha, merece destaque as propagandas criadas para as sopas Campbell’s no início dos anos 60, que associavam a marca à ideia de tradição e confiança. E de fato, por décadas, as mães americanas confiavam na sopa como forma econômica e nutritiva de alimentar os filhos. Esse cenário cristalizado de família feliz e bem alimentada inspiraria uma das obras mais famosas da arte pop.

Propagandas das sopas Campbell’s Reprodução

Ao pintá-lo em série, em 1962, o artista nova-iorquino Andy Warhol transformou esse produto essencialmente americano no símbolo da cultura que valoriza tudo aquilo que pode ser encontrado nas prateleiras de um supermercado. Como toda forma de arte, a publicidade acompanhou as tendências políticas de seu tempo. Os publicitários teriam colaborado para a onda de contestação que invadiu o mundo nos anos 60.

Em 1969, a MacManus John & Adams, de Detroit, publicou um anúncio institucional para promover a agência. A ideia era sintetizar o que significava, então, ser americano. Entre outras coisas, o texto dizia: “Eu morri no Vietnã. Mas eu andei na superfície da Lua. Eu construí uma bomba que destrói o mundo. Mas eu a usei para acender uma lâmpada. Eu estou envergonhado. Mas eu estou orgulhoso. Eu sou americano”.

A partir dos anos 80 e 90, nova ruptura, dessa vez na liberdade para falar de sexo, também na propaganda. Em 1990, a agência BBH, de Londres, criou anúncios para os sorvetes Häagen-Dazs que, apesar do nome europeu, nasceu em Nova York – de conteúdo claramente sensual. Corpos nus, lambuzados de sorvete, apareciam ao lado da mensagem: “Sinta-me”. Começavam os anos 90.

“Num mundo onde cada indivíduo é um provedor de conteúdo, é ingênuo acreditar que marqueteiros vão controlar as marcas”, diz Pat Fallon, então dono da agência que tem seu nome. Na opinião dele, os publicitários não devem resistir, mas se aliar a novas ideias.


Grandes campanhas

Gordon, criado pela N.W. Ayer & Son para a Nabisco, estreia a primeira campanha a atingir 1 milhão de doláres em 1980 Reprodução

Art Nouveau, propaganda de 1895 ousa na imagem de mulher Reprodução

Em 1958, Galeng, autor de posters de cinema, ilustra anúncio de TV, para a agência Elvinger Reprodução

Poster de 1959, de Savignac, pintor que defendia o efeito do “escândalo visual”  Reprodução

“Bom dia! Sou Renault 5.” Em 1972, a novidade da Publicis era a ausência de dados técnicos sobre o veículo Reprodução

Ilustração de Jean Effel, nome ideal para assinar a campanha do lançamento frânces da Nestle, em 1973, pela PublicisReprodução

Foto de Guido Mocafio para Hermès, na campanha “Encontros Essenciais”, de 2001, sobre belezas da terra Reprodução

Philip Morris e Leo Burnett criam, em 68, o cigarro Virgina Sims, para mulheres Reprodução

Não poderiamos deixar de fora os clássicos mamíferos da Parmalat Reprodução

Saiba mais

Propaganda Brasileira, Francisco Gracioso e J. Roberto Whitaker Penteado, Mauro Ivan, 2004

A History of Advertising, Stéphane Pincas e Marc Loiseau, 2008