Em 2017, 175 pessoas foram assassinadas, por dia, no Brasil. Foram quase 64 mil mortes violentas, um aumento de quase 3% comparado com 2016, que fez o país bater mais um recorde no histórico de violência.

Com 30,8 homicídios por 100 mil habitantes, o Brasil tem uma taxa três vezes maior que o limite definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para considerar a violência epidêmica.

O Brasil também registrou um novo recorde também na violência contra a mulher. O número de estupros aumentou mais de 8% quando comparado com 2016 e chegou a mais de 60 mil casos.

A cada 10 minutos um estupro é registrado no país. Na prática, esse número pode ser dez vezes maior, já que menos de 10% dos estupros são registrados em boletins de ocorrência.

O que também cresceu foi o número de pessoas mortas em intervenções policiais. Em média, são 14 mortes decorrentes de ações policiais, por dia. Um crescimento de 20% comparando com 2016.

O número coloca a polícia brasileira como uma das mais letais do mundo e a situação varia muito de estado para estado. A polícia de São Paulo está entre as mais letais. De cada três homicídios registrados na capital paulista, um foi resultado de uma ação policial.

Esses são números que estão no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nessa quinta-feira (9), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo a análise feita pelos especialistas do fórum, o aumento da violência tem relação direta com o caos no sistema prisional e o crime organizado para a venda de armas e drogas.

Sobre as armas, o fórum afirma que há um completo descontrole sobre as armas que circulam no país.

Enquanto a violência cresce, os estados, que respondem por mais de R$ 8 a cada R$ 10 investidos na segurança pública, não aumentam os gastos no setor em função do teto no corte de gastos.

Mas para David Marques, coordenador de projetos do fórum, mais do que ampliar o volume de investimentos é preciso mudar os rumos das políticas de segurança pública.

“Com o que existe hoje, com esse nível de investimento, e os nossos recursos daria para fazer melhor. Nós ainda podemos crescer em recursos, em investimento na área é necessário, principalmente por parte do governo federal, mas não é um gasto para mais arma, mais viatura, mais do mesmo, é para fazer alguma coisa diferente, é para fazer uma coisa nova. Eleger prioridades com objetivos e metas claras e estratégias que sejam inovadoras, baseadas em envidências que sejam científicas.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, comentou os números do relatório. Disse que o governo trabalha contra o crime organizado e prometeu que o novo Susp, o Sistema Único de Segurança Publica, começa a ser implantado até o final do mês.

“Nós estamos criando a coordenação nacional, reunindo todos os orgãos da área de segurança pública, de acompanhamento de monitoramento, para combater as facções criminosas,  motor da violência no país.”

O Susp prevê a integração das políticas de segurança de estados, municípios e da União. O projeto aprovado pelo Congresso Nacional foi sancionado em junho.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo discorda da metodologia aplicada e da nomenclatura utilizada “Mortes Violentas Intencionais”, já que é errado somar ocorrências de morte decorrente de intervenção policial aos homicídios e latrocínios, pois são situações que por sua dinâmica e modo de controle em nada se equivalem.

São Paulo adota o modelo de contabilização de dados de mortes semelhante ao modelo do FBI – polícia americana equivalente à Polícia Federal brasileira – e da Organização das Nações Unidas (ONU), onde ações de forças policiais são contabilizadas de forma separada.

A secretaria desenvolve medidas para redução da letalidade policial. Toda a ocorrência é acompanhada, monitorada e analisada para constatar se a ação policial foi realmente legítima.

A maioria dos casos ocorre quando policiais atuam para impedir roubos. Nos últimos cinco anos, cerca de 60% dos confrontos entre policiais militares e criminosos aconteceram nesta situação.

Em 2017, foram presos em flagrante 152.448 pessoas contra 687 que morreram durante troca de tiros. Assim, o total de mortos sobre o universo de pessoas presas representa 0,45%.

ebc