A privatização do sistema Eletrobras não só vai encarecer as tarifas de energia elétrica como, no caso do Nordeste, pode ser um fator de desestabilização social, na medida em que vai impactar as águas do próprio Rio São Francisco, que tem um importante papel de segurança social em toda a região.

A opinião é de José Antônio Feijó de Melo, engenheiro eletricista, ex-diretor da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) e professor aposentado de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em entrevista à Sputnik, Feijó diz endossar a carta subscrita pelos nove governadores dos estados nordestinos enviada ao presidente Michel Temer, repleta de críticas à proposta. Para o especialista, o controle de hidrelétricas por empresas privadas e o consequente domínio das águas fere a Constituição brasileira. “Nem mesmo nos Estados Unidos esse controle está na mão da iniciativa privada”, dispara Feijó.

A carta foi assinada pelos governadores Paulo Câmara (Pernambuco), Flávio Dino (Maranhão), Wellington Araújo (Piauí), Robinson Faria (Rio Grande do Norte), Camilo Santana (Ceará), Ricardo Coutinho (Paraíba), Renan Calheiros Filho (Alagoas), Jackson Barreto (Sergipe) e Rui Costa (Bahia). Os governadores alegam que qualquer decisão a respeito das hidrelétricas terá consequência direta na vazão do São Francisco devido à seca prolongada no Nordeste, que registra hoje o período mais árido dos últimos 90 anos.

Feijó lembra que a Eletrobras, idealizada na década de 50 e implantada em 1962, tinha como objetivo garantir a demanda de energia que o Brasil precisava para o seu desenvolvimento, e isso foi feito, segundo ele, com eficiência e tarifas reduzidas, uma das menores cobradas em todo o mundo.

Com relação aos impactos sociais, Feijó diz que há uma divulgação errônea junto à opinião pública de que hidrelétricas têm sempre controle privado. Ele cita o caso dos EUA. (Sputnik)