Se a democracia é o governo através do qual o povo exerce a soberania, até agora o governador Rui Costa não oportunizou o exercício dessa soberania à população ilheense ao decretar o fechamento do Hospital Regional e continuar sem discutir a questão como deve ser. O seu ato tende mais para a anarquia por subverter às leis, inclusive, retirar ou subtrair do povo o seu direito constitucional de acesso à Saúde é mais que isso, é crime.

Embora o governo estadual tenha batido o martelo declarando a desativação do Hospital Regional, a população não se rendeu, nem se renderá. Não se enganou, nem se enganará com as promessas de ações “milagrosas eleitoreiras”, quais a celebração de um contrato com o Hospital de Ilhéus, o investimento da ordem de 15 milhões na Saúde e a cessão, sem ônus, de mais de 200 servidores egressos do Regional à disposição do município a custo zero, mesmo porque, o entendimento da população é de que nada disso paliará as perdas que já decorrem com o fechamento do nosocômio. Também, porque, a essas alturas do campeonato ainda que eficazes fossem tais medidas “adoidadas”, marca registrada de um governo de “correria”, ante as obscuridades, leva-nos a alguns questionamentos, quando nos deparamos com um investimento da monta de 15 milhões, sem o conhecimento da sua fonte. Estará esse valor incluso na Programação Anual de Saúde e, consequentemente, na Previsão Orçamentária do Estado? Em caso afirmativo, onde e quando foram publicados esses atos? E se esse recurso decorrer da Programação Físico Orçamentária – FPO do Regional, em que fase se encontra a repactuação com a Comissão de Intergestores Regionais e Bipartite? Qual a posição do Conselho Estadual e do Conselho Municipal de Saúde em relação ao valor dessa ordem, a ser investido da forma como está sendo anunciada pelo governo do Estado, em parceria com o município? Quando e onde estão publicadas as Programações Anuais de Saúde do Estado e do Município?

Ainda sobre as obscuridades sobre o contrato em celebração com o Hospital de Ilhéus, Jorge Luiz questiona: “Qual o número de vagas que o Hospital disponibilizará para o SUS? O atendimento será na unidade principal(entrada pela porta da frente) ou no anexo lateral? Esse contrato será celebrado com a SESAB ou com o Município de Ilhéus? Em caso de necessidade de internação, quantos leitos estarão disponibilizados para o SUS? Nesse contrato está incluída a disponibilidade de vagas em UTI? Existe algum estudo e/ou planejamento, que demonstre seguramente a viabilidade do custo benefício ser proporcional ao valor dos serviços contratados?”

Há dúvidas, também, quanto a disponibilidade dos servidores do Regional, que conforme propala o governo estadual serão cedidos sem ônus ao município, porque o acato a essa cessão dependerá de um arrazoado demonstrando fundadamente o interesse da municipalidade em tê-los e como distribui-los no quadro municipal  da Saúde, em obedecimento ao princípio da motivação do ato administrativo. Se justificada for a motivação do ato, o município ganhará em eficiência nos serviços, porque disporá de uma mão de obra reconhecidamente de qualidade, por outro lado, não fará sentido manter o quadro de servidores contratados, nem de livre nomeação e exoneração, o que será uma “baita” economia.

Não se poderá descartar, entretanto, a hipótese de judicialização da questão, caso os servidores do Hospital não estejam dispostos a serem cedidos nessas circunstâncias ao município de Ilhéus, cujo Prefeito é responsável, também, pela tentativa, até agora, da desativação do nosocômio.

Do triste episódio “fechamento do Hospital Regional” estamos extraindo algumas lições positivas e nos permitindo enxergar com outros olhos a aflitiva necessidade de uma mudança drástica e radical no quadro político, coronelístico, retrogrado e repetitivo que imperante em nosso município e essas lições e visão política modificada, nos são chegadas pelo aprendizado com a dor, porque ao sentir-se órfã diante do conluio Estado/Município para desativar o Hospital, a população até agora não viu, nem  ouviu uma manifestação de um líder com mandato, nem exercente de cargo público, porque líder não é aquele que acompanha a eventos, nem agenda ­­­­reuniões,  nem se diz contra a determinado ato sem contudo manifestar-se a respeito, nem temendo colocar o seu cargo em risco, ou perder as “vantagens” do seu mandato, optam por silenciar-se ou fazer o jogo da intermediação em atitude morna, que nem fede, nem cheira. Não precisa provar com foto o que diz ter feito sem fazer. Líder é aquele que assume para si a defesa dos seus liderados e por mais aliado que seja, não hesita em repudiar veemente qualquer ato do governo que os prejudique, principalmente, se os efeitos desse ato atingirem em cheio a população inteira qual a desativação do Regional. O mandato deve estar a serviço do povo que o elege e não do Poder Político que o aprisiona, o vicia, o corrompe e o desmoraliza.

Outra lição que se extrai desse episódio é a descoberta de verdadeiras lideranças natas, destacadas na luta dos servidores e aliados pela reativação do Regional, as quais, vêm transpondo obstáculos e superando dificuldades e, pela coragem e denodo, têm incomodado os algozes da desativação, pois, não foi à toa, nem com a pretensão de promover Saúde para a população que o Secretário Fábio Villas Boas, três dias depois de ratificar a desativação do Regional reputando o serviço ali prestado como “o pior do país”, assim como, afirmar que o hospital é um “poço fundo” sumidouro de recursos públicos e como um filósofo macabro, acrescentar que é “preciso se perder aqui, para se ganhar depois”,  veio à Ilhéus, em um dia de sábado, que na verdade, foi para tentar conter o alastramento da ferida decorrente do tiro que o governo deu no seu próprio pé e minimizar os seu estragos e prejuízos eleitorais que já se avolumam, por conta da desativação.

Há, contudo, um cuidado que deve ser levado à sério. Trata-se de separar o joio do trigo, onde, aqueles que amam Ilhéus e defende a reativação do Regional, não devem se misturar nessa luta, com aqueles que dizem amar Ilhéus, mas são impostos a defender e defendem cegamente o governo, mesmo errado, em troca da manutenção dos seus cargos.

Contam que no acasalamento das perdizes, a fêmea se distancia e se abaixa ficando paralisada, enquanto, o macho distante, sai em “correria” desenfreada e ao passar por cima da fêmea, tocando-a, ali realizou o ato sexual. Isso quer dizer que se perder o pulo, perdeu a transa. Assim, o governador Rui Costa está pretendendo fazer com o Hospital Regional. Distante e sem conhecer a problemática da Saúde em Ilhéus, encontrando o município acéfalo, sem comando, sem autonomia política, nem administrativa, com o discurso de aliado entrou sem pedir licença e está no seu estilo “Correria” fazendo o que quer e deseja. Mas o Regional não é perdiz e a “Correria” do governador nesse sentido, significa uma “carreirinha” que além de fazê-lo perder o pulo, pelo andar da carruagem, o seu orgasmo político será amargo e dolorido, quando da abertura das urnas em outubro vindouro. O mal que ele tem feito em “correria” terá de volta em “calmaria”, no pinga, pinga de cada voto, de cada eleitor, porque, enquanto ele usa a sua “caneta” como uma arma contra o povo, o povo lhe retirará o alimento que o nutre e o sustenta no Poder. Não esqueçamos que comida de político é voto.

Pois é, o Velho que já salvou milhares de vidas, agora depende de nós para salvar a sua.

E como a minha avó sempre dizia: “cachorro por ser vexado, nasce com os olhos fechados”. Por isso, vamos devagar para não perder o rumo, porque, “Correria” sem razão é certeza de acidentes.

*Cidadão ilheense.