Eles subiram ao palco sem terem sido anunciados pelo mestre de cerimônias. Mas, é claro, nem precisava. Dava para intuir que a maioria do público presente no KM 6 da Entrada de Itacaré na noite de domingo, 1º, estava ali para ver a Legião Urbana de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá passar em revista a trilha sonora de toda uma geração.
Quando o relógio se aproximava da meia-noite, logo após o show de Nando Reis e antes do de Cidade Negra, o chamado dos fãs veio em forma de música, com os primeiros versos de Será?. A faixa que abria o disco de estreia da banda, em 1985, seria apenas um aperitivo da apresentação, que fez parte da programação oficial do Mahalo Surf Eco Festival.

Com músicas como Geração Coca-Cola e Soldado, ficou claro que a escolha de André Frateschi para os vocais foi acertada. Quem esperava um clone de Renato Russo no palco pode não concordar, mas é justamente este o seu grande trunfo. Frateschi não parece nada – e nem quer parecer – com o líder da formação original da banda, que morreu em 1996.

O que se vê no palco é um fã legítimo, que revela intimidade com o repertório para além de ensaios pré-turnê. Lançando mão da experiência como ator, o vocalista consegue apresentar uma performance consistente, sem descambar para a afetação.

Num dos raros momentos em que falou com o público, Frateschi disse o suficiente. “Vocês esperaram 20 anos para ouvir essas músicas ao vivo. Vocês têm noção de que esta noite é histórica? A gente está aqui para comemorar, se divertir e cantar muito. Viva Renato!”, convocou. E, durante a execução de Teorema, chuva. Teria sido um sinal?
Dez minutos

Fechado o ciclo do álbum Legião Urbana, era hora de cumprir a difícil tarefa de pinçar sucessos de outros discos da banda, com revezamento nos vocais. A atualíssima Que País é Este? compareceu. Dado Villa-Lobos ameaçou se despedir com Índios. Mas o público ainda viveria para ouvir os dez minutos da música Faroeste Caboclo, cantando junto cada palavra.

Para cantar Pais e Filhos, Bonfá assumiu o microfone e Frateschi sentou na bateria, mostrando que tem múltiplas habilidades. Vestindo uma camiseta onde se lia Leave the boy alone, ele parecia mandar um recado.
Que Renato Russo é insubstituível é óbvio. Mas, sim, Frateschi honra sua participação na turnê comemorativa com competência. Então, deixem o cara em paz.