A data de 2 de setembro de 2018 vai ficar para sempre marcada como trágica para a ciência brasileira. O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, cujo ano de fundação é 1818, foi consumido pelas chamas após um trágico incêndio. As causas ainda não foram totalmente esclarecidas. A perda do acervo que lá se encontrava – com cerca de 20 milhões de peças, algumas raríssimas – é de valor incalculável.

Com entradas a preços módicos e projetos que atendiam estudantes de escolas públicas, o Museu Nacional sempre foi um dos espaços mais democráticos no que diz respeito ao acesso à cultura e à educação. Representava um espaço vivo de trocas entre os visitantes, trazendo para perto de muitas pessoas a materialidade de um passado aparentemente distante por meio dos objetos ali expostos, aproximando-as e fazendo-as refletir sobre suas diversas dimensões, sempre ressignificadas a partir das memórias e experiências individuais.

A relevância desse espaço, contudo, não está no mero valor das suas peças, que compunham a quinta maior coleção museológica do mundo, mas em sua importância enquanto local de produção científica e acadêmica em diversas áreas do saber. Esse é, ainda, um espaço privilegiado para produção de pesquisa científica e integração de pesquisadores dos mais diversos campos do conhecimento, que sempre trabalham em prol da valorização, preservação e divulgação desse patrimônio, mesmo diante das dificuldades.

Era no Museu Nacional, por exemplo, que se encontrava a maior coleção de artefatos egípcios da América Latina, a qual levou à consolidação de um importante grupo de pesquisa na área que, nos últimos anos, vem atraindo pesquisadores de renome internacional interessados nas especificidades de uma Egiptologia brasileira.

Em diversas áreas, o Museu Nacional exerce papel enquanto núcleo de excelência e centro difusor de conhecimento, especialmente no contexto das Ciências Naturais e Antropologia. O estado de abandono no qual se encontrava esse espaço indispensável reflete a própria forma como a sociedade e os grupos que tradicionalmente ocupam as instâncias dominantes valorizam nossa história e se relacionam com ela. O que aconteceu no Museu Nacional não pode ser compreendido como fatalidade ou tragédia isolada – os parcos investimentos que sustentavam essa instituição e a redução do já insuficiente orçamento ao longo dos últimos anos são concomitantes às políticas que percebem a ciência e a educação como gastos a serem enxugados e, não, como investimentos necessários ao desenvolvimento da nação. O corte de bolsas de pesquisas é sintomático desse processo, já que o museu sofria não apenas com a falta de verbas para a manutenção de sua estrutura física.

Como todas as instituições públicas voltadas ao ensino e pesquisa, a falta de fomento às pesquisas ali desenvolvidas já vinha minando a produção científica realizada por pesquisadores ligados ao Museu Nacional. O incêndio foi apenas o golpe de misericórdia. É hora, portanto, de aproveitarmos o contexto eleitoral e nos posicionarmos a favor de candidatos com políticas de incentivo à conservação do patrimônio e à pesquisa científica, para que tragédias como essa não voltem a se repetir.

Autora: Maria Thereza David João é tutora de História do Centro Universitário Internacional Uninter.

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Lorena Oliva Ramos

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