A vendedora de cachorro-quente, Girlandia Santos, de 47 anos, lembra que durante a infância e juventude não pôde frequentar a escola. Internada no Hospital Regional Costa do Cacau há mais de 15 dias, Girlandia é uma das pessoas atendidas pela modalidade de ensino classe hospitalar, que compõe o Serviço de Atendimento à Rede em Ambiências Hospitalares e Domiciliares (SARAHDO). Vinculado às escolas da rede estadual de ensino, o serviço garante o direito à educação, mas colabora também na recuperação dos pacientes. A iniciativa é viabilizada pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC-BA), por meio da Superintendência de Políticas para a Educação Básica (SUPED).

“Nunca fui à escola, mas agora estou tendo essa chance. Eu já imagino quando receber alta. Sentirei falta dos professores, porque eles me dão palavra de conforto, me ensinam e me dão apoio. Eu agradeço a Deus em primeiro lugar e a todos que estão tendo paciência comigo nesse leito”, conta Girlandia.

A professora Alyne Gomes explica que os docentes montam o plano educacional tendo por base conteúdos que garantem a aprendizagem mínima essencial. As atividades desenvolvidas pelo estudante durante o período de permanência no HRCC serão entregues à escola na qual ele encontra-se matriculado. Dessa forma, após alta, o paciente pode continuar o processo de escolarização. O trabalho da equipe se estende às pessoas que, embora afastadas das salas de aula, desejam participar da modalidade de ensino.

“O trabalho é dividido em duas etapas. A primeira é a escuta sensível, momento no qual compreendemos a pessoa, o que ela pensa e as coisas que já viveu. A segunda parte é a escuta pedagógica, anamnese da vida escolar. Após o levantamento dos dados pedagógicos, montamos o plano de estudo individual, organizando as aulas por área. As atividades motivam o paciente, sem interferir, contudo, na rotina hospitalar”, explica Alyne Gomes.

Os educadores envolvidos na modalidade de atendimento pedagógico participaram de uma formação continuada. As disciplinas são lecionadas nos segmentos Ensino Médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos). Alyne Gomes enfatiza que a ocupação pedagógica mantida durante os dias de internamento permite ao estudante não se desprender da escola, além de tirar o foco na doença. Ela destaca que a rotatividade de pacientes é grande. Desde o começo das atividades, os docentes já atenderam mais de 40 pessoas, entre pacientes e acompanhantes.