A multipolaridade e as tensões difusas pelo mundo são as principais causas da insegurança internacional. A afirmação é do ex-ministro das Relações Exteriores, embaixador Celso Lafer, que participou, nesta segunda-feira (9) de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Como exemplos dessas tensões, ele citou o terrorismo, o tema dos refugiados e a política America First, do governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

O embaixador explicou que atualmente não há uma tensão dominante, ao contrário do que ocorria na época da Guerra Fria. As tensões mais graves são relacionadas a uma nova distribuição dos elementos que constituem o poder dos Estados e à multipolaridade, com a emergência da China e o deslocamento da importância econômica do Atlântico para o Pacífico.

– A insegurança internacional tem como pano de fundo essa disjunção entre ordem e poder, a incapacidade de uma ação conjunta geradora de poder suficiente para tornar realizável uma ordem mundial mais previsível e mais estável, o que, por sua vez, tem como nota explicativa a prevalência de múltiplas tensões internacionais – explicou.

Essa, de acordo com Lafer, é uma das razões para a diplomacia de combate ao multilateralismo que marca o governo do presidente Donald Trump. A postura é alimentada pelo unilateralismo do America First, política norte-americana atual que prioriza os interesses nacionais e rejeita a participação em acordos globais. Marcam essa estratégia, por exemplo, recuos em acordos sobre meio ambiente e comércio.

Terrorismo

Para Lafer, o terrorismo é uma das vertentes da insegurança internacional. A violência, explicou, destrói o poder de construir uma nova ordem mundial e dificulta a superação de dois desafios diplomáticos: encontrar interesses comuns e compartilháveis e administrar a diversidade cultural e os conflitos de valores.

A globalização da violência, de acordo com o diplomata, deixou de ser um meio e se transformou num fim. Com os atentados de 11 de setembro de 2001, promovidos pela Al-Qaeda, houve um deslocamento de tensões internacionais para dentro do território norte-americano. Para ele, o Al-Qaeda é uma indicação de que, para atuar na política internacional e causar conflitos, não é preciso ser um Estado.

– Trata-se de uma atuação por meio de redes, reforçadas pela era digital, que escapam das hierarquias e das cadeias de poder, permitem transpor fronteiras e territórios e o efeitos dissuasório dos seus muros e de suas barreiras e criam novos desafios para a segurança dos Estados e das sociedades e também para a nova vigência da regra democrática e do estado de direito – lamentou.

Refugiados

Na América Latina, a avaliação do embaixador é de que as tensões são menores. Como exemplo de tensão local que afeta o Brasil, ele citou a crise na Venezuela. O insucesso do governo, disse o embaixador, fez com que a pauta dos refugiados, antes distante, se inserisse com muito mais intensidade na realidade brasileira.

– O tema dos refugiados é um dos mais graves e dramáticos problemas da vida internacional. Essa é uma das grandes tensões do mundo – afirmou.

Para ele, diante da multiplicidade de tensões e do cenário de insegurança e instabilidade, o  governo brasileiro e o Itamaraty têm a tarefa permanente de avaliar riscos e incertezas na condução da política externa do país.

O senador Fernando Collor (PTC-AL), presidente da Comissão, disse que os diplomatas brasileiros são os mais preparados do mundo e que os debates promovidos pela CRE, com a prática da diplomacia parlamentar, podem contribuir para estreitar os laços diplomáticos com outras nações.

O ciclo de debates já teve 27 audiências, com a presença de 75 debatedores e 102 integrantes do corpo diplomático de 60 países.

Agência Senado