A Ceplac importou da Costa Rica os clones Catie R1, Catie R4 e Catie R6, três dos materiais mais resistentes a monilíase e de alta produtividade, desenvolvidos pelo Centro Agronómico Tropical de Investigación Enseñanza (Catie), para serem utilizados no programa de melhoramento genético do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec). Esta iniciativa contou com o a colaboração da Barry Callebaut, empresa que também apoia as pesquisas do Catie e financiou parte da missão da Ceplac visando à importação. Os clones se encontram em quarentena na Embrapa/Cenargen, em Brasília, a fim de assegurar que a transferência dos materiais seja livre desta e de outras enfermidades de plantas que ainda não existem no Brasil.
A monilíase do cacaueiro, causada pelo fungo Moniliophthora roreri, é uma das principais ameaças a cacauicultura brasileira. Esta enfermidade foi identificada originalmente na Colômbia, em 1817, e levou 100 anos para alcançar o Equador. Entretanto, a partir do século passado, a sua dispersão vem ocorrendo com maior intensidade, passando a Venezuela (1941), Panamá (1958), Costa Rica (1978), Nicarágua (1980), Peru (1988), Honduras (1997), Guatemala (2002), México (2005) e Bolívia (2012). Com o aumento do trânsito de pessoas na fronteira amazônica, inclusive com a construção de rodovias ligando esta região aos países onde a doença ocorre, a exemplo do Peru, o risco de introdução dessa enfermidade aumentou bastante, colocando o Brasil em alerta.
Nas regiões onde a monilíase se instalou, a sua ação tornou-se mais destrutiva do que a causada pela vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa), doença que provocou uma catástrofe na Região Cacaueira do Sul da Bahia, eliminando mais de 200 mil empregos diretos e reduzindo a produção de cacau a 25 %. Diante dessa ameaça, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, através da Secretaria de Defesa Sanitária e da Ceplac, em parceria com as agências estaduais de Defesa Sanitária, vem implementando o Plano de Contigência da Monilíase, por meio de ações de prevenção à entrada da doença no Brasil e realização de pesquisas.
Na busca de alternativas para amenizar o problema de uma possível introdução da monilíase no país, a Ceplac vem promovendo o intercâmbio de germoplasma, visando desenvolver populações de cacaueiros geneticamente melhoradas, a partir de fontes de resistência introduzidas do Equador, Colômbia e outros países da América. Este é o objetivo do projeto realizado sob a liderança do pesquisador do Cepec, Uilson Vanderlei Lopes, o qual conta com financiamento da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).
O intercâmbio de germoplasma resistente a monilíase vem sendo realizado pela Ceplac desde 2010, quando foram introduzidos genótipos provenientes do Equador e Costa Rica, já que não se conhecem fontes de resistência à doença presentes na coleção brasileira de germoplasma de cacau, reconhecida como uma das mais ricas em diversidade do mundo. Infelizmente a produção de amêndoas destes materiais era muito baixa para uso direto pelos produtores. Por esse motivo pesquisadores do Cepec em parceria com investigadores do Catie e do Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement (CIRAD), da França, vêm desenvolvendo pesquisas visando desenvolver variedades produtivas e resistentes à monilíase e a vassoura-de-bruxa, utilizando tecnologias na área de genômica, a fim de identificar plantas resistentes no Brasil, mesmo na ausência da monilíase.
Os recentes materiais introduzidos da Costa Rica além de serem empregados no programa de melhoramento genético serão avaliados em diferentes agrossistemas da região Sul da Bahia. A ideia é que numa provável introdução da monilíase já existam informações sobre o comportamento de clones resistentes em fazendas da região. Do mesmo modo, clones com genes de resistência a esta doença e a vassoura de bruxa, desenvolvidos pela Seção de Genética, serão avaliados no Peru, Equador, Colômbia e Costa Rica. O emprego do melhoramento preventivo antes da chegada da monilíase ao país é uma tentativa de evitar que a região seja submetida a uma nova crise, como ocorreu com a vassoura de bruxa.