O deputado federal Cacá Leão afirmou que o PP vai trabalhar para colocar um nome próprio na corrida eleitoral de 2022 ao Governo da Bahia. E o nome já está escolhido: será o vice-governador João Leão, pai dele. “A perspectiva do Partido Progressista nesse momento é na construção da sua candidatura. Acho que a gente tem legitimidade para isso. Fomos o partido que mais cresceu nas eleições de 2020, temos mais de 100 prefeitos e 500 vereadores”, avalia, em entrevista à Tribuna. Na entrevista, ele também avalia a volta do ex-presidente Lula à corrida presidencial do próximo ano – quando deve enfrentar o atual presidente, Jair Bolsonaro. Para o baiano, a polarização na política não é saudável para o país. “Acho que essa polarização, raiva e ódio marcados na eleição de 2018 não vai ser bom para o Brasil. Espero que eles tenham maturidade suficiente para fazer as discussões da campanha de 2022 dentro do aspecto da política”, espera. Cacá ainda faz uma avaliação sobre o combate à pandemia na esfera nacional, estadual e municipal e ainda revela perspectivas para o futuro.

Tribuna – Estamos vivendo um momento de pandemia e crise econômica. Qual é a sua percepção desse cenário, no momento?

Cacá Leão – É muito difícil. Acho que ninguém esperava ficar tanto tempo com isso, que a gente fosse ter tanta dificuldade para fazer esse enfrentamento e conseguir vencer o coronavírus. Graças a Deus, a gente já tem a vacina, um caminho. E agora é lutar para vacinar a nossa população para que a gente consiga sair disso o mais rápido possível. Esse é o meu pensamento, esses são os esforços que a gente tem tentado fazer no Congresso Nacional para que a gente consiga ter a solução do problema o mais rápido possível.

Tribuna – O senhor acha possível acelerar o processo de vacinação? Em outros países, como os Estados Unidos, pessoas mais jovens estão sendo vacinadas.

Cacá Leão – Tem. A gente tem tentado fazer. Os presidentes das duas Casas, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, têm tentado ajudar no diálogo do governo com os outros países e fabricantes, mostrando a necessidade e o problema que existe no Brasil hoje. A gente foi afetado por uma segunda cepa do vírus, muito mais forte do que a primeira. Inclusive, atingindo com muito mais força uma categoria de idades muito menor. Hoje o maior número de pessoas internadas na UTI são pessoas na faixa etária dos 40 anos. A gente tem tentado ajudar a aprovar matéria e garantir recursos para que a gente consiga acelerar a compra de vacinas para o Brasil, para que a gente consiga ter uma resposta mais rápida e um alívio. Os governadores também têm feito um esforço para conseguir comprar vacinas. A gente aprovou uma matéria na Câmara, que está em discussão no Senado, para que as entidades privadas possam também comprar vacinas. Sempre que ela comprar uma vacina, vai doar uma vacina para o SUS. Então, a gente tem feito essa discussão para tentar acelerar esse processo de vacinação e fazer com que a gente tenha acesso a maior quantidade de vacinas possíveis.

Tribuna – Essa compra de vacinas pelo setor privado tem sido um tema bem polêmico. Uma parte da classe política é a favor e a outra é contra. Por que tanta discordância?

Cacá Leão – A polarização que existe hoje na política tem sido levada e tem sido trazida também para o enfrentamento ao coronavírus. Eu acho isso muito ruim. Tem gente com o negacionismo de vacinas, tem gente com esse entendimento de que a vacina tem que ser 100% pública. Eu, particularmente, penso que a gente nesse momento tem que deixar as bandeiras políticas de lado. A gente precisa trabalhar para fazer o enfrentamento ao inimigo em comum, que é o coronavírus. É claro que a gente tem uma dificuldade muito grande de compra de vacinas e o setor privado vai ter uma dificuldade de comprar vacinas, como o setor público está tendo também. Mas acho que o projeto foi muito bem feito, foi relatado por uma deputada do meu partido. O projeto diz que a empresa privada que compra a vacina, automaticamente tem que comprar duas: uma para vacinar os seus funcionários e outra para o SUS. Então, o projeto aumenta ainda mais a capacidade do SUS de acesso à vacina. Eu particularmente acho que essa politização do enfrentamento ao Covid é péssima para o Brasil. A gente tem que dar as mãos para vencer o inimigo em comum.

Tribuna – O senhor acha que o Governo do Estado e a Prefeitura de Salvador têm acertado nas medidas de combate à pandemia até então?

Cacá Leão – O governador Rui Costa e o prefeito Bruno Reis, capitaneados pelo secretário Fábio Vilas-Boas e o secretário Leo Prates, têm feito um esforço muito grande para conseguir fazer esse enfrentamento dão exemplo para o Brasil do que é forças políticas opostas trabalharem unidas para vencer um inimigo em comum. Eu acho que a Bahia e Salvador serviram e servem de exemplo para o Brasil, de mostrar que não é momento de politizar essas ações. Veja o apoio que o Governo do Estado tem dado a Prefeitura de Salvador e o apoio que a Prefeitura de Salvador tem dado ao Estado, na ajuda a outras cidades do interior. Acho que Salvador e a Bahia servem de exemplo, que deveria estar sendo seguido por todo o Brasil, para o enfrentamento do coronavírus.

Tribuna – No início da pandemia, a gente viu a população muito preocupada e se isolando. Agora a gente não tem visto isso. E, além disso, a gente vê um aumento no número de casos. Até que ponto a gente pode atribuir às pessoas o descontrole da pandemia e o aumento do número de casos?

Cacá Leão – É difícil julgar a necessidade do próximo. Eu condeno os que estão por aí nas ruas fazendo festas clandestinas, mas o cara que precisa ir para a rua trabalhar – e eu particularmente defendo a abertura e a inclusão de outros setores nas atividades essenciais. Atividade essencial é aquela que você tem para levar o sustento para casa, para sua família. Tem muita gente que precisa trabalhar. E aí acho que os governos precisam incentivar, inclusive com o aumento da frota de transporte público, ao incentivo às micro e pequenas empresas para que elas não demitam. A gente tem uma dificuldade muito grande no Brasil em termos de renda da população. Já vivíamos isso antes da pandemia e isso foi aumentando e muito. A população precisa sair, precisa trabalhar, precisa levar o sustento para sua casa. Não dá para a gente condenar a população que precisa ir às ruas para garantir o seu sustento – diferente daqueles que não têm responsabilidade e que estão por aí fazendo festa e aglomerações clandestinas quando a gente não tem nada para comemorar ainda. Espero que, dentro de muito pouco tempo, a gente consiga ter o que comemorar.  Que a gente volte a conseguir se abraçar. Mas o momento é de manter o distanciamento social e sair apenas para tentar trazer o sustento para dentro da sua casa.

Tribuna – O que achou do orçamento sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro e de como ficou a distribuição de recursos?

Cacá Leão – Está dentro da expectativa que a gente já imaginava. O governo fez o esforço, cortando inclusive despesas dentro do seu funcionamento. Graças a Deus o governo tem tido um aumento de arrecadação e acho que isso não vai ser colocado como um problema no final do ano para atingir as suas metas. Mas o governo precisa investir em obras. É fazendo investimento que ele ajuda os municípios, indiretamente. Quando você leva uma obra para o município, você tem toda uma cadeia que se alimenta dela: desde o empresário da loja de material de construção até o emprego que é gerado. Acho que o orçamento foi sancionado dentro do que estava nas expectativas. Houve uma discussão muito grande desse processo. Participei diretamente dessas discussões ao lado do presidente Arthur Lira e acho que está dentro das expectativas. Tenho certeza absoluta que a gente vai conseguir corresponder e executar muita coisa nesse ano. E vai ajudar, inclusive, aos comércios, às famílias e aos municípios a aumentarem a sua renda e arrecadação para conseguirmos sair o mais rápido possível da crise.

Tribuna – Qual é a sua opinião sobre os movimentos que pedem volta às aulas?

Cacá Leão – A gente votou nessa semana um projeto que torna a educação um serviço essencial também nesse momento de enfrentamento. Há uma polarização sobre essa matéria, mas eu particularmente votei a favor por entender que a gente precisa voltar e os nossos jovens precisam voltar. Claro que com o distanciamento social que está colocado, com as medidas socioeducativas que foram colocadas durante o enfrentamento da pandemia. Mas eu defendo que a escola tivesse sido a última a voltar e a primeira a voltar.

Tribuna – Sobre política nacional, o senhor acha que a presença do ex-presidente Lula vai influenciar nas eleições estaduais de 2022?

Cacá Leão – O ex-presidente Lula é uma força inegável. Ninguém pode dizer que não é. Tenho certeza que, há um ano das eleições, ele vai ajudar muito a fazer a discussão nos estados onde ele tem uma influência muito grande – principalmente nos estados do Nordeste, onde tem uma força reconhecida. Então, acho que ele ajuda seu partido a fazer essa discussão nos estados sim.

Tribuna – O senhor falou sobre a questão da polarização durante a pandemia. Causa preocupação a perspectiva de haver uma polarização ainda maior com Lula e Bolsonaro na eleição do ano que vem?

Cacá Leão – Espero que não. Espero que a gente consiga ter vencido essa fase crítica e que essas discussões a respeito da eleição de 2022 sejam feitas dentro da política. Acredito que será uma eleição, se o ex-presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro forem candidatos, onde eles irão dizer o que já fizeram e vender o que eles pensam do país do futuro para os próximos quatro anos. Acho que essa polarização, raiva e ódio marcados na eleição de 2018 não vai ser bom para o Brasil. Espero que eles tenham maturidade suficiente para fazer as discussões da campanha de 2022 dentro do aspecto da política. O ex-presidente Lula mostrando o que fez dentro dos seus oito anos de governo e o presidente Bolsonaro dizendo o que fez nos seus quatro anos. Que a gente deixe a raiva e o ódio de lado e pense no país. É o que eu espero que aconteça na eleição de 2022. Sei que não é fácil, mas é o que eu espero.

Tribuna – Considerando o cenário atual, o senhor vê possibilidade de haver a ascensão de uma terceira via, como Ciro Gomes? Ele, inclusive, contratou João Santana, marqueteiro das campanhas vitoriosas do PT.

Cacá Leão – Acho que 2022 ainda está um pouco longe. Temos nomes que foram já testados nas urnas nas eleições presidenciais. E tem novos nomes que podem surgir também ao longo desse ano. A gente tem aí o presidente da Câmara, do Senado, governadores e nomes do cenário político que podem surgir como uma alternativa a essa polarização. Então, acho que está muito cedo para fazer essa discussão. Faltam um ano e meio para as eleições. E espero que elas sejam feitas dentro da expectativa do que é melhor para o Brasil. O surgimento de uma terceira via será muito bom para fazer essa discussão também.

Tribuna – Existe chance do PP apoiar o ex-prefeito ACM Neto na campanha ao Governo do Estado em 2022?

Cacá Leão – Olha, a gente ainda não sabe quem serão os candidatos da eleição do Governo em 2022. Temos alguns nomes colocados, como o senador Jaques Wagner e o ex-prefeito ACM Neto. Mas a gente também tem colocado o nome do senador Otto Alencar e do vice-governador João Leão – que é do meu partido, que é o nome que a gente apoia, que a gente coloca e que vai trabalhar dentro do nosso grupo político para fazer esse enfrentamento. A perspectiva do Partido Progressista nesse momento é na construção da sua candidatura. Acho que a gente tem legitimidade para isso. Fomos o partido que mais cresceu nas eleições de 2020, temos mais de 100 prefeitos e 500 vereadores. Somos 10 deputados estaduais e quatro federais. Temos um vice-governador, um nome capaz de entrar nessa discussão. Então, a gente não está fazendo a discussão de quem vamos apoiar. Estamos fazendo a discussão do fortalecimento do nome da nossa pré-candidatura, que é João Leão.

Tribuna – Caso haja as candidaturas de Wagner e Neto, o senhor acha que vai ser uma disputa acirrada ou não tão acirrada assim, considerando o possível cansaço da população com o PT? Como avalia essa possibilidade?

Cacá Leão – Os cenários podem ser mudados até 2022. Eleição sempre é disputada e nunca é fácil. Por mais que a gente saiba que tem voto, só temos certeza quando se abrem as urnas. Qualquer eleição é disputada e vai depender de qual perfil que esteja montado para a eleição de 2022. Mas, como te falei anteriormente, ainda está um pouco longe. Falta um ano e meio para isso acontecer. Ainda há muita água para passar por debaixo dessa ponte.

Tribuna – Tem se falado nos bastidores sobre o seu nome para disputar o Senado. O senhor considera essa possibilidade?

Cacá Leão – Primeiro, a gente fica lisonjeado quando a gente tem o nosso nome lembrado – ainda mais em um cenário como esse e eu ainda jovem. Fico muito feliz, acho que isso é reconhecimento do trabalho que a gente tem feito em Brasília e pelo nosso estado, através da atuação do nosso mandato de deputado federal. Mas eu não trabalho com esse cenário. O nosso partido trabalha com a candidatura do vice-governador João Leão a governador do Estado da Bahia. Se isso acontecer, inclusive, estarei impedido de fazer qualquer outra disputa que não seja a de deputado federal pelo fato de já sê-lo. Então, o meu horizonte é trabalhar para a reeleição para a Câmara dos Deputados.

Fonte: TB.