A moda sempre foi um instrumento que diferenciou classes e grupos sociais. Ao estudá-la a fundo, é possível considerar que ela é uma das principais formas de expressão humana, já que com ela é possível que as pessoas revelarem seus estilos e opiniões sem emitir uma única palavra.

 

Quando se fala em moda, vale lembrar que ela é construída a partir das identificações e experiências das pessoas e está em constante evolução, sendo movida pelas tendências. “Com ela é possível perceber as evoluções e mudanças nos tempos, na sociedade, nas relações e nas evidências das diferenças sociais”, destaca a influenciadora digital Juliana Cunha.

 

Quando se observa as mulheres negras do Brasil no século XXI, é possível entender como o Brasil, um país repleto de referências e costumes culturais, sofreu influência das diversas culturas que vieram durante o período de colonização, e impactaram diretamente na moda atual. “Os escravos influenciaram nossos hábitos e costumes, alimentação e a moda, tendo referências até hoje”. Juliana ressalta que, “apesar de não haver documentos específicos sobre o assunto, é possível analisar as imagens de época e ver como a cultura afro até hoje se faz presente na moda”.

 

Juliana Cunha revela que a moda com essas referências ganhou força a partir dos anos 90, quando surgiram meios de comunicação voltada para esse público e sua história passou a ter destaque. “Esta moda foi construída baseada em nosso clima tropical e tem grande atuação nas periferias, baseada nos gostos do povo preto, mas também sendo possível ser usada por povos de diferentes etnias. É importante considerar que a cultura africana é marcada pelo uso de variadas cores, estampas e produtos feitos a mão, e isto é fácil de se em nossa moda”.

 

Alguns itens tão comuns na moda brasileira atualmente tiveram origem com a cultura africana, e por hoje serem tão comuns, a população em geral não sabe de sua origem tão importante para este cenário.

 

Para se ter ideia, durante o período escravocrata, os negros produziam suas próprias roupas e com o passar do tempo essas roupas foram também usadas pelo colono. Juliana explica que “o produto que eles tinham acesso era um algodão grosso, que não passava pelo processo de tingimento e, a partir de estudos, foi percebido que neste período iniciamos a produção em massa, já que existiam moldes de diferentes tamanhos para fazer as peças. Para se ter uma ideia, atualmente, a camiseta branca com calça de linho é um look que atrai muitos usuários”, revela.

 

Uma outra curiosidade é sobre as miçangas. Na cultura africana, elas sempre foram muito utilizadas como adorno, apontadas como um símbolo de beleza, riqueza e proteção. “Além das peças com significado como figas, búzios e moedas, por exemplo, é possível observar que na umbanda, religião que nasceu no Brasil, as miçangas são utilizadas como forma de proteção. Esta é uma tendência no âmbito dos acessórios que, desde 2019, vem crescendo e tendo cada vez mais adeptos no mercado brasileiro”, detalha a influenciadora.

 

Outro costume tão usado pelas mulheres brasileiras, mas pouco explicado, é o de usar renda branca em eventos. “As mulheres baianas participantes da umbanda usam vestidos de renda branca como uma maneira de barrar energias negativas em dias de trabalho, e é apenas em dias de trabalhos mediúnicos em que elas podem usar essas peças como uma maneira de fazer a separação entre o sagrado e o profano. Observando nossa cultura atual, podemos ver como adaptamos esta cultura e temos o hábito de usar roupas de renda branca em momentos festivos”, destaca Juliana.

 

Falando em cores, a cultura africana utiliza as estampas como símbolos de identidade e prosperidade do grupo. Ao associar este elemento com o clima tropical brasileiro, esta prática passou a ser adotada pela moda brasileira. “Usar as cores fortes, estampas geométricas é a tendência mais evidente da influência africana na nossa moda.”

 

“Como pode-se ver, a moda afro-brasileira é forte em diversas maneiras, mas, ainda é pouco retratada nas coleções de estilistas, além de não termos estilistas negros em destaque no mercado. Diante disso, o ideal seria valorizar nossas referências e história para que a cultura do nosso país seja cada vez mais forte e reconhecida nacional e internacionalmente”, completa Juliana Cunha.

 

 

Créditos de: Divulgação / MF Press Global

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