Não é sempre que o vestuário de matriz africana ganha o merecido destaque quando se trata do importante vínculo entre o universo da moda e as manifestações culturais do País.
No entanto, essa relevância é resgatada no livro Moda e História – As Indumentárias das Mulheres de Fé, escrito pelo antropólogo Raul Lody e com imagens do francês Pierre Fatumbi Verger. O prefácio foi assinado por Carmen Oliveira Silva, iyalorixá do Gantois.

A publicação será lançada neste sábado, 28, das 17 às 20 horas, no Terreiro do Gantois. O carioca Raul estará no evento e afirma que, intencionalmente, escolheu o modelo das roupas de baiana como eixo principal.
“É uma espécie de pedra fundamental de toda a publicação. Dessa montagem, que reúne elementos islâmicos e africanos, por exemplo, resulta um verdadeiro conjunto de bases indumentárias. A essência de todas essas roupas permanece de maneira muito contemporânea”, explica.
Além disso, ele conta que no contexto de matriz africana, a imagem materializa um valor forte. “Ela se revela como ação afirmativa através dos penteados, maquiagens, joias e texturas, por exemplo”.

Na obra, Raul passeia pelas vestimentas típicas de festejos de largo, tipos de amarrações de tecidos (pano de vestir e de cabeça), aborda o trajeto histórico do richelieu (técnica híbrida entre a renda e o bordado) e fala sobre a relevância dos fios de conta e colares.

“A própria população se revela pelas roupas com penteados, adornos e outros aspectos estéticos. Nesse contexto, estar bem vestido é como buscar uma conexão com o universo do sagrado”, ressalta.
Com o auxílio das imagens produzidas por Pierre Verger, fica mais fácil para o leitor ilustrar os conteúdos históricos, social e religioso abordados. As legendas das fotos deixam as informações acessíveis.

Além disso, o livro tem como força significativa a valorização do aspecto feminino na construção da estética da Bahia.
Valor estético
Raul Lody esclarece que o estudo do campo imagético tem uma relação longa e complexa na sua vida desde o início da trajetória profissional. “Aos 21 anos, fui para Dakar estudar arte africana. Foi um grande impacto na minha formação. O tema beleza é dominante para mim”.
No entanto, ele reforça que entende a beleza dentro de parâmetros da cultura. “Por isso, existem tantas belezas quanto culturas e manifestações”. Dessa forma, ele já enveredou por outros tipos de pesquisas no universo estético que também resultaram em livros, como Cabelos de Axé: Identidade e Resistência (Senac) e Joias de Axé (Bertrand).
A partir desse ponto de vista, ele fala que é importante compreender a roupa também como um instrumento político. Mas numa visão generosa e não partidária: como convicções e pontos de vista. “O vestuário ajuda a encontrar formas de pertencer ou se sentir inserido em determinado segmento. Roupa lida com comportamento do corpo”.