Bastou o PT fechar acordo pela votação que deve dar seguimento ao processo no Conselho de Ética que pede a cassação do mandato do deputado e presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), acusado de quebra de decoro, para que o peemedebista revidasse. Na tarde de ontem, o presidente do Legislativo brasileiro convocou uma coletiva e anunciou que acatou o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) feito pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. Diante da reação do chefe da Câmara, os deputados federais baianos classificaram o ato de Cunha como chantagem.
Para o líder da bancada baiana do PT na Câmara e vice-líder do PT na Casa, Afonso Florence, a atitude de Eduardo Cunha não deixa dúvidas. “Queria ser salvo no Conselho de Ética. Mas o PT se recusou a fazê-lo”, ressaltou, para argumentar a decisão da bancada petista: “O PT trata todas as investigações da mesma forma: devem ser aprofundadas e prosseguir. Eduardo Cunha, um corrupto com suas entranhas expostas em praça pública, não tem moral para presidir a Câmara, menos ainda para dirigir um pedido de impeachment”. Florence também lembrou que a bancada do PT vai “lutar com todas as forças para zelar pela democracia” e reforçou que existem provas contundentes contra Cunha e “nada contra a presidente Dilma”.
Jorge Solla, outro deputado baiano pelo PT, também não economizou nas críticas ao presidente da Câmara, embora tenha reconhecido que o governo Dilma errou em alguns pontos. “O pedido de impeachment golpista será rejeitado pela Câmara e pelo povo brasileiro pelo óbvio motivo de que não há absolutamente nada contra a presidente Dilma, se não pretextos contábeis para tentar justificar o golpe, as chamadas pedaladas. O atual mandato da presidente Dilma é merecedor de muitas críticas por erros na economia e na política, mas que jamais justificariam um afastamento inconstitucional”, defendeu.
O deputado federal Valmir Assunção (PT) também demonstrou sua insatisfação com o pedido de impeachment. “Cunha, que é acusado de inúmeros atos criminosos, antiéticos e imorais, coloca em prática a chantagem que ameaçou todo ano. Abriu um processo sem nenhum embasamento para impeachment da presidente Dilma”, criticou, ressaltando a atuação da chefe do Executivo nacional. “Dilma é uma presidenta honrada, de conduta ilibada”.
‘Vamos resistir para manter o estado democrático’
Aliada ao governo federal, a deputada baiana Alice Portugal, do PCdoB, também considerou o ato de Eduardo Cunha como tentativa de golpe. Após o peemedebista anunciar que acolheu o pedido de impeachment feito pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnir, a bancada do PCdoB na Câmara Federal se manifestou criticando o ato.
À Tribuna, Alice explicou as razões com as quais defende a não procedência do impeachment. “Juristas importantes como Heleno Torres, a Ordem dos Advogados do Brasil, dentre outras instituições, já analisaram a completa falta de solidez do argumento de pedaladas fiscais para justificar impeachment.
O que aconteceu foi que o senhor Eduardo Cunha, acossado pelo PT, que prometeu votar contra ele no Conselho de Ética, e como se mantinha numa posição de gangorra, de chantagem, entre a posição do governo e a posição da oposição, optou por aliar-se com a oposição e acatar o requerimento de impeachment”, disse a parlamentar comunista. Alice também questionou a legalidade do acolhimento do pedido de impeachment. “Temos muita clareza de que é ilegal, de que a atitude dele se dá de uma maneira golpista calcada sobre uma chantagem, e vamos resistir até o fim para manter o estado democrático de direito em nosso país. Isso significa manter o nosso governo legitimamente eleito”, resumiu a deputada.