A fantasia do Filhos de Gandhy virou mais uma recordação nas mãos do auxiliar de serviços gerais Raimundo Moreira dos Santos, 51 anos. A lembrança não era de seus tempos áureos de folia, mas do filho, Wellington de Jesus Santos, 25, que acabara de encontrar em uma das geladeiras do Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues. O rapaz, que se integraria neste domingo (2) ao tapete branco da paz, aguardava neste sábado para sair com o Olodum, quando foi baleado seis vezes na concentração dos blocos, na Avenida Sete, no circuito Osmar.
A morte de Wellington foi a primeira registrada este ano nos circuitos da festa. Ontem, o delegado Jorge Figueiredo, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), disse que um suspeito de cometer o crime chegou a ser detido. Trata-se de um ambulante pego pela Polícia Militar portando uma arma de fogo. “Ele foi encontrado próximo ao local logo após o fato. No entanto, os calibres das armas são diferentes e foi desvinculado do caso. Porém, foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma”, explica Figueiredo, que não tem pistas do assassino e nem a motivação do crime.
As circunstâncias da morte de Wellington também são desconhecidas pela família. O pai acredita que o filho tenha se envolvido numa briga. “Ele era muito solidário e poderia ter sido baleado quando tentava separar a briga de alguém”, sugeriu ontem, nas dependências do IML. Abalada, a mãe, a doméstica Maria do Carmo Góes de Jesus, 47, lembrou do último diálogo com Wellington. Era por volta das 14h, quando o filho se despediu para curtir o Carnaval.
“Ele disse: ‘Minha mãe, já vou’. E respondi: ‘Vá com Deus. Já tomou o remédio?’. Perguntei porque ele tomava medicação controlada”, revela, emocionada. Além de ser portador de transtorno mental, Wellington recebia pensão da Previdência Social há oito anos – ele perdeu a visão do olho esquerdo após cirurgia para a retirada de um tumor no cérebro. Foi com os R$ 724 do benefício que ele pagou as duas fantasias. “Ele sempre gostou do Carnaval”, recorda a mãe.
Pouco depois da meia-noite, a doméstica recebeu a má notícia de uma das filhas. Manuela de Jesus dos Santos, 21, que estava na pipoca e que, à tarde, havia se encontrado com a vítima no circuito, informou à mãe que Wellington fora achado baleado no jardim do Forte de São Pedro, nas imediações da Casa d’Itália. O trecho é usado para a concentração e dispersão dos blocos e o jovem aguardava a saída do Olodum, quando foi atingido no abdômen, braço e tórax. A vítima estava caída em um gramado e segurava a camisa do bloco em uma das mãos. “Ele pesava 130 quilos e a camisa não dava”, explica a mãe.
Wellington foi socorrido por uma equipe do Salvar ao Hospital Geral do Estado. “Estou aqui, mas só Jesus sabe o que passei no HGE… Muita dor”, lamenta a doméstica, que pretende enterrar o filho hoje com a fantasia do afoxé. “O Gandhy era a paixão dele”. Morador da Engomadeira, Wellington será velado em casa e, às 11h, será sepultado no Cemitério Bosque da Paz, na Estrada Velha do Aeroporto.
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