Ações policiais, eventos com armas letais e violência contra mulher são os maiores registros da Rede de Observatórios da Segurança nos seus dois anos de existência nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. É o que mostra o relatório “A vida resiste: além dos dados da violência” que será lançado na próxima quinta-feira, dia 22. A publicação traz detalhes dos 31.535 eventos violentos monitorados – o equivalente a um caso a cada 33 minutos, além de contar com a participação de coletivos que se movimentam para superar esses trágicos números. O monitoramento é feito a partir do que circula nos meios de comunicação e nas redes sociais sobre violência e segurança e equivale ao período de junho de 2019 até maio de 2021.

A Rede foi a primeira iniciativa a monitorar operações policiais e nasceu como uma forma de responder aos problemas de falta de transparência e de abertura de dados sobre criminalidade e violência. Ao todo, temos 18.037 registros de ações policiais em dois anos. No Rio, foram 5.617 ações da polícia, com 856 mortes e 727 feridos. Só em 2021, o estado registrou oito operações por dia – mesmo com a vigência da proibição do STF, com 189 mortes nas operações monitoradas. No Nordeste, houve um aumento de mais de 100% de registros de ações policiais em Pernambuco do primeiro para o segundo ano, mas é a Bahia quem registra o maior número de mortes em operações (461) com a polícia mais letal da região. O estado da Bahia também lidera o número de chacinas no Nordeste com 74 casos e no quadro geral perde apenas para o Rio de Janeiro que registrou 92 chacinas – entre elas a maior chacina policial da sua história com 29 mortos – sendo um agente-, no Jacarezinho, em maio deste ano.

Ainda no Rio de Janeiro, 388 agentes foram vitimados e 130 mortos. Chama atenção o fato de que mais da metade dos policiais foram vitimados fora de serviço. Outro ponto é a falta de informação racial desses policiais mortos em todos os estados, 86% deles não têm a cor informada. O que mostra a indiferença entre cor e raça das vítimas.

As pesquisadoras da Rede de Observatórios conferem diariamente dezenas de veículos de imprensa, coletam informações e alimentam um banco de dados que posteriormente é revisado e consolidado. São 16 indicadores monitorados e tradicionalmente ações policiais e eventos com armas de fogo ocupam a maior parte do noticiário policial. Mas outras categorias chamam atenção – como o feminicídio e a violência contra a mulher – o terceiro maior dado monitorado na Rede.

São Paulo é o estado que lidera as violências contra mulheres com 1.375 registros. Neste ano, além de um aumento de 67% de registros nesse indicador, também houve um aumento de 44% nos registros na categoria violência de sexual. Somente em 2021, 373 mulheres foram vítimas de violência no estado. Sabemos que esses números são subnotificados, pois os nossos dados se baseiam no que é publicado na imprensa e nem todos os casos chegam aos jornais.

Pernambuco se mostrou o estado mais perigoso para ser jovem, liderando o número de homicídios de pessoas até 18 anos entre os cinco estados. Também é importante destacarmos o aumento de 78% de casos de abuso sexual de crianças e adolescentes no segundo semestre de 2020. O contexto de pandemia foi um fator que contribuiu para a elevação dos eventos, tendo em vista que essas crianças e adolescentes passaram a ficar mais tempo dentro de casa

Além das novas configurações por conta das facções, o Ceará chama atenção pela taxa de casos de violência contra LGBT, são 50 registros com 6 casos por milhão de habitantes. Enquanto São Paulo, com 81 registros, tem 2 casos por milhão de habitantes. Vale lembrar que o estado não apresentou esses dados para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e que observamos que esse tipo de violência chega cada vez mais cedo para as vítimas. Como aconteceu com Keron Ravach, de apenas 13 anos, que se tornou a adolescente trans mais nova a ser assassinada no estado.

Novos Observatórios

Após dois anos operando na produção cidadã de dados em cinco estados, a Rede de Observatórios, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com apoio da Fundação Ford, chega ao Maranhão e ao Piauí no segundo semestre deste ano. A Rede de Estudos Periféricos, da UFMA e IFMA, e o Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens, da UFPI se unem a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD); Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop); Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC) e ao Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP). O objetivo é monitorar e difundir informações sobre segurança pública, violência e direitos humanos.

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