Em 2017, encorajado, depois de dois anos com uma terapeuta particular, que lhe deu certeza sobre a identidade de gênero masculina, Henrique resolveu procurar o psicólogo da PM para ter informações sobre a transição de gênero, inclusive sobre a mudança do nome social e a terapia hormonal. Ainda não havia nenhum caso como o seu na policia paulista e o soldado temia ser exonerado do cargo e excluído da corporação. O psicólogo disse que não via problema algum com seu caso e o orientou a fazer um documento para o comandante da companhia tratando de sua questão de gênero. Ele fez. “A instituição é legalista, ela prega o que a lei determina, o que está no regulamento e o que é meu direito foi tranquilamente autorizado. A polícia não me barrou e nem criou qualquer tipo de empecilho”, diz. Apesar disso, todo o processo envolveu algum sofrimento. Henrique tinha a sensação de que algo podia dar errado e ficava agoniado com a espera. Os trâmites que permitiram sua conversão duraram cerca de um ano. Dentro da instituição, o soldado não sofreu qualquer tipo de preconceito e ninguém veio dar qualquer opinião sobre sua vida. “Acho que quando as pessoas vêem que a gente está executando nosso trabalho de maneira profissional, mostrando capacidades, as particularidades pessoais acabam passando despercebidas”, diz. “Ser transgênero é uma particularidade minha que não altera em nada o meu desempenho”.

TRANSFORMAÇÃO O soldado Henrique antes da transição para o gênero masculino, quando ainda era a soldada Emanoely (Crédito:Divulgação)

“As maioria das pessoas não sabe diferenciar identidade de gênero de orientação sexual” Emanuel Henrique, soldado da PM

Orientação sexual

Henrique admite que antes de compreender sua própria situação e descobrir porque o corpo de mulher o incomodava tanto, ele próprio tinha preconceito com as pessoas trans. E ele atribui esse preconceito à falta de informação. Para o soldado, em geral as pessoas são preconceituosas com aquilo que desconhecem. Às vezes, as pessoas fazem comentários nas mídias sociais do soldado relacionados à orientação sexual, acreditando que se trata da mesma coisa que identidade de gênero. São questões distintas, que, segundo Henrique, a maioria das pessoas não sabe diferenciar. “Elas não sabem que a identidade de gênero está ligada ao que penso, ao meu cérebro e não à minha orientação sexual, por quem eu sinto atração”, explica. “Na verdade, aceitar quem eu sou me tornou uma pessoa mais feliz no dia a dia, no convívio social e no trabalho”.

Homens dominam e mulheres avançam
Na Polícia Militar do Estado de São Paulo 87% dos soldados e oficiais são do sexo masculino 

É de se compreender que na Polícia Militar do Estado de São Paulo haja mais soldados homens que mulheres. Afinal, demorou para que as mulheres saíssem de suas funções domésticas para ocuparem o mercado de trabalho. Além disso, os homens são tradicionalmente mais indicados para ocuparem postos que exigem mais força física. Atualmente a PM SP conta com aproximadamente 71.882 soldados homens em seu quadro efetivo, e 10.424 mulheres