310x346_1390009“Ele disse a ela que iria cegá-la totalmente e matá-la, e que ela pensasse duas vezes antes de procurar a polícia, mas nós estávamos ao lado da vítima e o prendemos em flagrante”, informou a delegada Clécia Vasconcelos, titular da Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM).

As sessões de torturas e agressões duraram quatro meses, até que na última quinta-feira (13), Renata tomou coragem e fugiu, procurando abrigo na casa de uma amiga, mas só denunciou o fato na DEAM na tarde de segunda-feira. A jovem perdeu a visão do olho esquerdo que era constantemente perfurado com um garfo, pelo acusado. Além disto, ele arrancou e quebrou os dentes dela com um alicate, cortou o cabelo e o rosto com uma faca e ateou fogo na sua cabeça.

Deleon foi preso em junho de 2013 em flagrante após ameaçar Renata, mas foi liberado no final de setembro. Apesar da Lei Maria da Penha determinar que a vítima seja informada imediatamente que o agressor foi solto, isso não aconteceu e Renata foi capturada por Deleon em outubro. Ela foi levada para uma casa no bairro George Américo, onde foi mantida presa nesses quatro meses.

“Ele descobriu que eu estava grávida de outro homem e aí começou a tortura. Furava o meu olho, pulava em minha barriga e ainda me forçou a tomar remédio para abortar. O que passei nestes quatro meses acreditei que iria morrer, mas na verdade ele queria me ver sofrendo pois gritava que tudo o que ele fazia era porque eu o tinha denunciado para a polícia”, disse a vítima, bastante assustada.

Ela contou que, para cometer as agressões, Deleon ligava o aparelho de som no volume máximo para evitar que os vizinhos ouvissem os gritos de socorro. “Ele tampava a minha boca. No dia que ateou fogo na minha cabeça, gritei bastante, ai ele pegou uma toalha molhada e jogou em cima de mim. Passei os piores dias de minha vida”, contou.

Ciúmes – Renata foi submetida a avaliação médica e exames e foi constatado que o bebê ainda está vivo. Durante o tempo que esteve em poder do ex-companheiro ele a obrigava a falar para a família que estava bem. Inconformados com uma possível reconciliação do casal os parentes pararam de procurá-la. “Ela disse que estava com ele então achei que ela gostava do sofrimento. Vim saber das agressões quando ela fugiu. Tenho medo dele porque durante os 10 anos que conviveram juntos, ele a maltratava muito e ameaçava matar a mim e meu filho caso falássemos com a polícia”, afirmou Josefa da Silva Bezerra, mãe de Renata.

Deleon negou as acusações alegando que a ex-companheira foi agredida pelo pai do bebê e que lhe pediu para ajudá-la a abortar a criança. “Comprei remédio para ela abortar e tudo. O problema é que ela está com ciúmes porque tenho uma namorada e resolveu acabar mais uma vez com a minha vida. Eles estão tentando me incriminar. Estou pagando o preço por ajudar alguém que não presta”, defendeu-se.

Justiça – O casal tem uma filha de 8 anos e chegaram a morar juntos até 2013, pouco tempo antes de ele ser preso. O relacionamento, segundo familiares e vizinhos, era marcado por constantes brigas e agressões. No imóvel onde a jovem foi mantida em cárcere é fácil encontrar marcas de sangue nas paredes do quarto, colchão e roupas. “Ele mora aqui há sete anos e não tenho o que dizer dele como inquilino, pagava em dia. Mas fiquei espantado com a notícia do que ele praticou, pois ele se comportava normalmente sem demonstrar nada. Na verdade, nem sabia que ela estava aí nestes quatro meses. Apenas via a menina (filha do casal) aqui fora. É um absurdo o que ocorreu”, disse o proprietário do imóvel, que preferiu não ser identificado.

Deleon foi submetido a exames de corpo de delito e encaminhado nesta manhã para o Conjunto Penal. Além de ameaça, ele foi indiciado por tortura e cárcere privado. “Nunca vi uma situação desta, fiquei tão chocada que sequer consegui dormir. Espero que o judiciário analise com cuidado este caso, pois a maior lesão desta jovem é a psicológica, pois ela ainda está assustada com tudo o que ocorreu”, frisou a delegada.

Clécia Vasconcelos informou ainda que movimentos ligados a causa de violência contra a mulher já entraram em contato para obter informações e acompanhar o caso. “Alguns órgãos são de abrangência internacional”, destacou.

Josefa Bezerra fez um apelo ao judiciário. “Que não cometam o erro de soltar ele rapidamente como aconteceu no ano passado. Não temos ninguém por nós e se ele for solto tenho certeza que virá nos matar”, apelou.