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Sueli Retori abriu sua franquia em Brotas
de olho no custo acessível e nos
clientes da nova classe média

Eles acham a cara da riqueza ir comer na Subway, levar suas roupas para lavar na Laundromat e comprar um presentinho no Boticário. Mas fazem isso do jeito deles e só se estiver na promoção. Moradores de bairros populares que antes precisavam ir para os grandes  shoppings hoje já podem ter acesso aos mesmos serviços de franquias famosas nos seus bairros. Prova disso é o caso de O Boticário, que tem 68% de suas franquias na capital em bairros populares.

No geral, as franquias instaladas em Periperi, Itinga, Barbalho, Largo do Tanque, Plataforma e outros bairros populares não lucram menos, não têm instalações inferiores, nem preços diferenciados com relação a outras lojas semelhantes. A única diferença é que, nesses bairros, os produtos promocionais têm mais saída que no eixo Pituba-Graça e outras áreas consideradas nobres da cidade.

Na Subway, por exemplo, os sanduíches ‘barato do dia’ e ‘baratíssimo’ representam 60% das vendas em bairros populares, segundo o agente de desenvolvimento do Norte-Nordeste, Frederico Pereira. “Em geral, a venda desses dois sanduíches representa 50% do total, mas tem loja que vende 30%, outra 40%”, conta. O ‘barato do dia’ custa  R$ 8,45 e o ‘baratíssimo’,
R$ 6,45. “Esses clientes querem ter acesso às mesmas coisas das classes A e B, comer na Subway é como se fosse uma grife. Isso acontece também em cidades do interior”, diz.

Em Salvador, na loja do Barbalho, esse número é ainda maior: “Entre 70% e 80% do total das vendas se refere só ao ‘baratíssimo de peito de frango’”, afirma o gerente Erick Portugal. Por lá, os clientes têm um jeitinho peculiar de saborear a iguaria. Ao lado da lanchonete tem um mercadinho chamado Massa Pura.  E lá, o refrigerante custa bem mais barato. “Tem muita gente que vai comprar o sanduíche lá e vem comprar o guaraná aqui. Lá é R$ 3, R$ 4, e aqui tem guaranazinho até de R$ 1”, orgulha-se Marcos José Barros, funcionário da loja.

Proprietário de nove franquias da Subway, seis delas em bairros populares, Manoel Matos compara os lanches preferidos da clientela: “Nos bairros nobres, sai muito sanduíche de frutos do mar e frango teriyaki. Mas nos populares, os campeões são o ‘barato do dia’ e o ‘baratíssimo’”, atesta. Ele foi o primeiro  franqueado da rede, nos idos de 2012, a apostar no segmento popular e abrir uma loja em Cajazeiras. “Apostei no crescimento do poder de compra das classes C e D.

Todo mundo tinha medo de arriscar, fui o primeiro. Mas depois que eles viram que deu certo, começaram a abrir na Caixa D’Água, Largo do Tanque, Caminho de Areia…”, enumera.
O investimento médio em cada uma das suas nove lojas foi de R$ 500 mil, valor que ele calcula recuperar em três anos. Em cada unidade são empregados cerca de 15 pessoas, todas da comunidade.

Beleza
O Boticário é outra rede de franquias com expansão pelos bairros de classes C, D e E. Em Salvador, das 57 lojas espalhadas pela cidade, 39 delas estão localizadas em bairros considerados populares, como Pernambués,  Piedade e Sussuarana.

“Sempre tivemos a estratégia de estar presente em diferentes bairros de diferentes regiões brasileiras, com o objetivo de atender ao maior número possível de consumidores”, diz o diretor de Desenvolvimentos de Canais e Franchising, Osvaldo Moscon.

Ele explica que quando um local com potencial para receber uma loja é detectado, a marca analisa o perfil do ponto de venda, o público e se há lojas que atendem na proximidade, assim como a distribuição de franqueados presentes naquela microrregião.

Da mesma forma que acontece com a Subway e a Laundromat, o diretor de O Boticário também garante que não há nenhuma diferenciação entre as lojas. “Todas as lojas de O Boticário seguem o mesmo padrão e identidade visual”, diz.

Serviços
O diretor comercial da rede de franquias Laundromat, Nicolas Lopez, conta que a empresa também decidiu expandir pelos bairros populares. “Em Salvador, já temos na Carlos Gomes, no Dois de Julho e em Brotas”.

Ele conta que nesses locais, o valor médio de compra costuma ser menor, mas o franqueado acaba ganhando pelo volume. “Quarta-feira tem promoção de 20% no débito ou dinheiro. É quando a loja fica cheia”, concorda Sueli Retori, dona da franquia de Brotas.

O cartão de débito, segundo ela, é a forma de pagamento preferida de seus clientes. Além das promoções, ela conta que o pessoal de Brotas curte uma pechincha. “O nível de exigência é igual ou maior, mas sempre choram um desconto, pechincham muito”, se diverte a moradora da Pituba.
Isso mesmo, Pituba. “Não abri a franquia lá porque nesses bairros já tem muitas lavanderias.

Brotas é um bairro populoso e temos um custo acessível, que atinge essa nova classe média”, avalia Sueli. Por lá, um cesto de até 20 peças do dia a dia custa R$ 26 para ser lavado no sistema self-service onde o próprio cliente faz a lavagem das peças usando a estrutura da lavanderia. Ou seja, não gasta com material de limpeza nem energia. Colaborou Joana Rizério.

Franquias podem ser abertas com até R$ 6 mil
Para quem está pensando em montar uma franquia, mas desistiu ao saber o valor da Subway (R$ 500 mil), é bom saber que também existem opções acessíveis. E tem gente bastante criativa no mercado. O que você acha, por exemplo, de fazer publicidade em um saco de pão? É isso o que propõe a rede de franquias Midia Pane.

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Manoel Matos e o filho Matheus (amarelo) são donos de nove lojas da Subway, seis em bairros populares

“O franqueado cadastra entre dez a 100 padarias e faz a prospecção dos clientes. O investimento inicial é baixo, e dá para trabalhar de casa”, explica a diretora de relacionamento da rede, Vanessa de Oliveira Peixoto.

Na prática, funciona assim: a padaria recebe os sacos de pão gratuitamente; o cliente compra um espaço publicitário no saco, a central da franquia produz o anúncio e, após aprovação, envia para o franqueado já impresso nos sacos; e o franqueado serve apenas como intermediário do processo. Para começar um negócio desse, Vanessa sugere um capital de giro inicial de R$ 6 mil a R$ 10 mil, além de uma taxa de franquia a partir de R$ 8 mil.

O franqueado também precisa pagar pelos sacos de pão. Se você se interessou, pode saber mais detalhes em midiapane.com.br. Mas antes de se jogar no novo negócio, é preciso estudar o assunto. “Antes de abrir qualquer negócio, é preciso conhecê-lo, pesquisar sobre ele”, aconselha Sueli de Paula, gerente da Unidade de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae Bahia.

Ela adverte também estudar bem o local onde se pretende montar a franquia. “Se o lugar tem muito salão de beleza, você não vai abrir outro”, exemplifica. Ainda segundo Sueli, quem está pensando em abrir negócios voltados para as classes mais baixas deve saber que a margem de lucro vai ser pequena e, por isso, vai ser preciso vender muito volume. “A vantagem da franquia é que você já começa sendo uma marca conhecida, com um padrão de qualidade”, avalia.

O Boticário é a rede que  mais fatura no Brasil, diz pesquisa
Para ter uma franquia, popular ou não, o investimento é alto. Portanto, antes de arriscar é bom saber exatamente qual o retorno que o negócio pode trazer. De acordo com a última pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), o setor de franquias tem registrado crescimento na casa dos dois dígitos. Desde 2005, as redes crescem mais de 10%.

No último balanço divulgado, a alta de 2013 em comparação com 2012 foi de 11,9%. Entre as que mais faturaram, O Boticário manteve a liderança em faturamento e também em número de unidades: 3.691 lojas. A empresa é seguida pelo McDonald’s e pela rede de supermercados Dia%.

No setor de móveis, decoração e presentes, quem mais faturou foi a franquia dos Colchões Ortobom; já em educação e treinamento, o primeiro colocado foi o curso  Wizard. No total, o franchising faturou R$ 115,5 bilhões com 2.703 redes e 114.409 unidades. A associação não possui nenhuma pesquisa voltada para as franquias instaladas em bairros populares.

Empresário aposta em academia de alto padrão na periferia
Já que as classes C e D comem na Subway, compram no Boticário e lavam suas roupas na Laundromat, por que não malharia em uma boa academia? O empreendedor Edi Santos teve essa ideia. E deu certo. Ele montou duas academias para esse tipo de público nos bairros de Paripe e Caminho de Areia.

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Órion oferece serviços de alto padrão em Paripe e Caminho de Areia

As unidades Órion Fitness oferecem a mesma estrutura e serviços que normalmente só eram encontrados em bairros nobres. Para Edi, a classe C está mais exigente na hora de consumir e decidir onde investir o seu dinheiro. “Por meio de pesquisas, verificamos que este é um nicho ainda pouco explorado e pouco profissionalizado. Diante disto, decidimos investir nestas áreas”, explicou.  “A compra não se dá mais pelo preço, e sim pelo valor agregado”, completou o empresário.  Em pouco mais de dois anos, já são duas unidades que atendem aos requisitos das academias de alto padrão, só que em bairros populares.  Entre as aulas estão as de ritmos, resistência, aeróbica, lutas, postura e relaxamento. As academias dispõem ainda de três salas para atividades coletivas, salão de musculação com equipamentos de ponta, vestiários amplos e confortáveis, além de tratamentos estéticos. Gostou da ideia? Então vai ter que montar a sua, porque a Órion não é uma franquia.

Priscila Chammas – Correio