Causou sincero espanto a mim e a milhares brasileiros o panelaço ocorrido no último domingo à noite, em importantes cidades brasileiras, enquanto a Rede Globo veiculava no Fantástico a primeira entrevista do Vice-Presidente em exercício, Michel Temer.

Ocasionou surpresa sim, e até certa perplexidade. É que todos os que foram a favor do impeachment tinham plena consciência de que quem assumiria a presidência em caso de afastamento de Dilma seria Temer. Portanto, lutar pelo afastamento da primeira implicou, necessariamente, em colocar no poder o segundo. Como podem, então, estes brasileiros estarem insatisfeitos e reclamando apenas três dias após a posse de Temer?

Ora, quem conhece um pouco mais de política e de história sabe perfeitamente que o PMDB de Temer e Eduardo Cunha estava envolvido até o pescoço nos casos de corrupção do governo anterior. Afinal, o principal partido de sustentação do Governo Dilma, além do próprio PT, era o PMDB, e tanto era assim que este último partido indicou o Vice-Presidente e detinha inúmeros ministérios no Governo Federal.

E quem não conhece nada de política, mas compreende as torpezas da natureza humana, percebeu que Temer se comportou o tempo todo como o mais desprezível traidor e golpista, pois ele não só abandonou o mínimo de solidariedade que deveria ter para com sua companheira de chapa eleitoral como conspirou abertamente para que ela caísse, empenhando todos os meios para derrubá-la e, obviamente, usurpar para si o cargo de Presidente.

Milhares de pessoas que bateram panelas contra Temer no domingo tinham consciência de que o PMDB era partícipe de todas as irregularidades que destruíram o governo do PT. Mas um número muito, muito maior de pessoas – tenho absoluta certeza disso – não raciocinou deste jeito, mas chegou às mesmas conclusões mediante um mecanismo simples de raciocínio humano: Se o PT foi tirado do poder porque não prestava, o PMDB e Temer não poderiam jamais ter permanecido, nem assumido o governo. Simples assim!

As vezes o povo, em sua simplicidade, chega por uma via direta e curta às mesmas conclusões que estudiosos, historiadores e sociólogos só chegam após anos de estudo.

Pode parecer contraditório, estranho, institucionalmente inadequado ou impossível. Mas os batedores de panela, nesse episódio, estão certíssimos em sua lógica e, sobretudo, na conclusão final: Se a Presidente, por isso ou aquilo, não lhes pareceu boa o suficiente para permanecer no cargo, não é um Vice traidor, líder de um partido corrupto, que servirá para ser o futuro Presidente do Brasil.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz. e-mail: juliogomesartigos@gmail.com

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