Os artistas com os cachês mais gordos que vão tocar ao redor da Bahia durante as festas juninas, não fazem parte do forró, mas sim de um ritmo que não está ligado às tradições do período: o sertanejo. É o que revela o levantamento feito pelo Metro1 a partir de dados apresentados pelo Portal da Transparência Junino, construído pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA).

O sertanejo, conhecido pelos investimentos exorbitantes, embala as apresentações de sete dos dez artistas com maior valor por espetáculo. O cantor que lidera a lista dos mais bem pagos é Wesley Safadão, com cinco contratos nas cidades de Candeias, Euclides da Cunha, Jequié, Itabuna e Belo Campo, cada um no valor de R$700 mil, totalizando em R$ 3,5 milhões.

Em seguida, a dupla Zé Neto e Cristiano com contratos em Irecê e Ipiau de R$650 mil. O cantor Leonardo ocupa o terceiro lugar, com cachê de R$500 mil na cidade de Serra Dourada.

Falta forró

O problema da falta de holofotes acesos para o forró atinge o São João há anos e é duramente criticado pelas personalidades ligadas ao arrasta-pé. Ao Metro1, a presidente da Associação Cultural dos Forrozeiros da Bahia (Asa Branca), Marizete Silva do Nascimento, disse que enxerga o investimento de recursos em outros ritmos com muita “indignidade e aborrecimento” e pediu respeito pelas tradições e culturas nordestinas.

“Nosso São João requer a utilização das raízes das matrizes do forró. Nós não temos nada contra o sertanejo, mas nessa época não cabe. Nossas tradições estão sendo enterradas”, disse.

Como solução, Marizete citou o Projeto de Lei 3083, apresentado no dia 14 deste mês pelo deputado federal Fernando Rodolfo (PL), em parceria com a Asa Branca, que pretende regulamentar a destinação de recursos públicos para as festividades de São João, em todo o Brasil, e estabelecer um percentual que deve ser empregado para a contratação de artistas e conjuntos musicais que representam a cultura popular do Forró.

“Hoje não se contrata quem faz bem os shows de festas nordestinas no São João e a diferença dos valores pagos para quem não é forrozeiro é um disparate essa situação é a nível nacional”, disse Marizete.

A discussão sobre o espaço dos forrozeiros têm tomado forma nos últimos dias. No início deste mês, o cantor Flávio José, referência do forró, teve o seu tempo de show reduzido para o sertanejo Gusttavo Lima, que se apresentaria depois, tivesse uma apresentação maior O caso aconteceu durante uma festa junina batizada como “Maior São João do Mundo”, em Campina Grande.

Avaliando a situação, o forrozeiro Adelmário Coelho disse em entrevista à Rádio Metropole, que já presenciou gestores colocarem 80% de atrações que não são do gênero musical tradicional nas festas juninas, sobrando um espaço de 20% para os cantores do forró. “É triste para caramba. E isso é quase rotina, só que geralmente não chega na mídia. E foi bom [este caso] para dar uma sacudida e as pessoas terem essa informação”, desabafou o artista.

Veja abaixo os 10 artistas com os cachês mais altos:

Wesley Safadão – R$ 700 mil – 5 contratos, totalizando em R$ 3,5 milhões
Zé Neto e Cristiano – R$ 650 mil – 2 contratos, totalizando em R$ 1,3 milhões
Leonardo – R$ 500 mil
Bruno e Marrone – R$ 500 mil – 2 contratos, totalizando em R$1 milhão
João Gomes – R$ 490 mil e R$ 450 mil – 6 contratos, totalizando em R$ 2,7 milhões
Mari Fernandez – R$ 460 mil – 6 contratos, totalizando R$ 2.6 milhões
Maiara e Maraísa – R$ 450 mil – 5 contratos, totalizando em R$ 2.2 milhões
Bell Marques – R$ 450 mil – 2 contratos, totalizando em R$ 900 mil
Simone Mendes – R$ 420 mil e R$ 400 mil – 3 contratos, totalizando em R$ 1,2 milhões
Nattan – R$ 400 mil