Hoje, temos muito que refletir. Percebemos que as conquistas e mudanças relacionadas à participação das mulheres no mercado de trabalho, acontecem muito lentamente. Já se conquistou alguns espaços, mas, ainda tem um longo caminho…
Numa justa homenagem a essas mulheres guerreiras, manifestamos nossos pensamentos e sentimentos de gratidão. Como um dos representantes no legislativo ilheense e defensor também das causas e direitos das mulheres, saudemos a capacidade e a importância dessa grandeza feminina.
Estimava que a principal revolução desencadeada pela sociedade ocidental em toda a sua história aconteceu no século XX, quando as mulheres conquistaram o direito a uma identidade própria, sem a necessidade de se definir a partir de sua relação com o pai ou com marido. Entretanto, este direito ainda hoje não é pleno em muitos aspectos.
Uma alegoria dessas lutas é o dia 8 de março, escolhido pelas Nações Unidas como o dia internacional da mulher. Atualmente, cerca de setenta nações adotam esta data, que faz referência à greve de mulheres russas no prenúncio da revolução de 1917. Neste ano, no Brasil, além dos 39 anos da existência do Dia Internacional da Mulher, comemoramos os 84 anos de direito ao voto feminino.
Um resultado dessa mobilização é que por vezes transparece para a sociedade, através da mídia de massa, certa igualdade de gênero social. Contudo, isto não acontece, nem mesmo de modo razoável: a mulher continua a receber salários defasados, a ser brutalizada fisicamente, e a ocupação de espaços sociais permanece desequilibrada; de modo que a suposta identidade própria permanece comprometida.
A busca por identidade social própria é uma das respostas fundamentais à histórica violência contra a mulher. Esta violência possui um caráter explícito, associado muitas vezes à vergonha e ao preconceito, e outro implícito, marcado também pelo preconceito, mas caracterizado por certa invisibilidade social. Os temas sobre o gênero de caráter mais explícito vêm sendo sistematicamente estudados e discutidos, com pesquisas que tratam desde questões éticas ligadas à liberdade de cátedra e gênero, literatura e cinema até a violência corporal e moral das mulheres.
Neste mês mais importante para a luta das mulheres, ao menos simbolicamente, é fundamental reafirmarmos o significado que esta data tem para as lutas anticapitalistas e revolucionárias de forma geral. Importante para evitar a reprodução de “mitos” sobre a data, presentes em reportagens televisivas e redes sociais, periódicos, entre outras comunicações. As tentativas de apropriação ideológica que lhe retiram o caráter revolucionário inerente à sua história, tornando-a uma celebração da “essência” feminina. Mas, principalmente, para reafirmarmos a importância do papel das mulheres trabalhadoras, auto-organizadas, nas lutas sociais comprometidas com a transformação radical desta sociedade capitalista e patriarcal, portanto, colonial, nas dimensões as mais diversas da vida social.
Então por que o Dia Internacional das Mulheres é realizado no dia 8 de março e por que esta data é tão significativa? É comum depararmo-nos com distintas explicações, mas uma bastante comum é a de que a data seria uma homenagem às centenas de trabalhadoras mortas em um incêndio ocorrido em 1857. Frente a esta polêmica, a pesquisadora Ana Isabel González (2010) traz importante contribuição que comentamos a seguir.
No livro “As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres” (Expressão Popular/Sof, 2010), a autora busca desvendar as reais origens do Dia Internacional das Mulheres, o 8 de março. Ela demonstra que este “mito” encontra algum referencial na história e detém uma importância histórica para as lutas das mulheres, pois nesta tragédia, em que morreram 146 pessoas (123 mulheres), estavam as protagonistas da primeira greve organizada exclusivamente por mulheres naquele país. Uma greve que se alastrou por diversos estados nos Estados Unidos, levando à paralisação de entre 30 e 40 mil trabalhadores da indústria têxtil.
Mas, na mesma pesquisa, a autora traz evidências de que embora este incêndio tenha ocorrido em março de 1911, na fábrica The Triangle Shirtwaist Company, nos Estados Unidos, não é este o acontecimento original que levou à escolha do dia 8 de março como Dia Internacional das Mulheres. Ela argumenta que tal escolha deveu-se à importância das manifestações das mulheres como estopim do processo que culminou na Revolução Russa, em 1917, manifestações ocorridas no dia 8 de março, ou 23 de fevereiro no antigo calendário russo.
Foi durante a Conferência das Mulheres Comunistas, paralela ao III Congresso da Internacional Comunista em 1921, que a data foi acordada, como forma de lembrar a importância da organização das mulheres trabalhadoras para a Revolução Russa, nas lutas sociais gerais, estabelecendo uma data comum como dia Internacional, unificado, de luta das trabalhadoras.
Lembremo-nos de Clara Zetkin, Alexandra Kollontai, e tantas outras mulheres que enfrentaram os ditames patriarcais em seus partidos, e na sociedade, para reafirmar – prática e teoricamente – que a luta pela libertação das mulheres é um postulado necessário para a construção de outra sociedade; que a auto-organização das mulheres não provoca “divisionismos na classe”, mas é condição para a emancipação de todos e todas.
O trabalho de Ana Isabel González permite-nos rever as versões dominantes sobre a “primeira onda feminista” (ou mesmo esta forma de periodização). Isto é, na literatura dominante sobre o tema evidencia-se a importante luta das sufragistas pelo direito ao voto no ciclo mais geral de lutas abolicionistas e pelos direitos civis. Mas as trajetórias das socialistas e comunistas e, portanto, dos partidos “socialdemocratas” (como eram chamados à época) nesta luta ficam quase apagadas. Elas que atuaram para a conquista do direito ao voto, mas ampliando a agenda de luta para além do dogma liberal, demandando este e outros direitos como direitos universais; contribuindo para os avanços na auto-organização das trabalhadoras para a conquista de condições mais dignas de vida e trabalho.
No entanto, como decorrência positiva desta contra história, outras ausências e invisibilidades sobre tal “primeira onda feminista” vem à tona. O que dizermos sobre as lutas das mulheres negras por libertação? Das mulheres e povos subalternizados, colonizados, neste mesmo período? Nesta data tão especial que é o dia 8 de março, fica o questionamento deste humilde vereador: como apropriarmo-nos continuamente deste marco de luta com os feminismos periféricos, especialmente na América Latina? Feminismos construídos desde as experiências de organização popular, anticapitalistas, antipatriarcais, anticoloniais, antirracistas e anti-homofóbicas?
Como bem cito no inicio desta coletânea, é PRECISO REFLETIR O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE.
PARABÉNS MULHERES!
Dr. Cosme Araújo,
08 de março de 2016.
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