A relação de desconfiança do Palácio do Planalto com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem precipitado uma intensa movimentação nos bastidores pela sucessão do comando da Casa. Com a impossibilidade do deputado alagoano de concorrer a um novo mandato, dois parlamentares baianos aparecem como cotados à sucessão: Elmar Nascimento (União), que pode ter o apoio de Lira, e Antonio Brito (PSD), que tenta se viabilizar como o postulante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As informações são do jornal O Globo.

O deputado Marcos Pereira (SP), presidente nacional do Republicanos, e o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), também estão no páreo. Pereira tem o apoio irrestrito do deputado baiano Márcio Marinho, que comanda o Republicanos na Bahia, enquanto o emedebista é o candidato do senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversário de Arthur Lira.

Na terça-feira passada, a bancada federal do PSD se reuniu com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que ouviu apelos para que o governo se empenhe em eleger Antonio Brito em 2025. A campanha é endossada pelo presidente da legenda, Gilberto Kassab, conhecido por transitar bem entre as diferentes forças políticas do país. “Fico contente com esse reconhecimento e tenho a compreensão que a eleição acontecerá no momento certo”, disfarçou Brito.

Enquanto isso, defensores da candidatura do PSD não escondem que estão em campanha e afirmam que, diferentemente de Elmar e Pereira, Brito teria uma melhor interlocução com o governo. Argumentam ainda que ele poderia ser um nome mais confiável que os demais, por já fazer parte da base aliada.

A articulação do PSD conta ainda que o PT, dono da segunda maior bancada, deve abrir mão novamente de lançar um candidato em troca de um nome de consenso, a exemplo do que ocorreu na reeleição de Lira, no início do ano. Na ocasião, o atual presidente da Câmara juntou no mesmo bloco partidos aliados ao governo e de oposição, como o PL.

Diferentemente do deputado do PSD, os outros parlamentares evitam se colocar como candidatos neste momento por receio de queimar etapas, mas intensificaram a campanha nos bastidores. Em conversas reservadas, um dirigente partidário disse que nunca viu um processo tão antecipado pela eleição do comando da Casa.

Tanto Elmar quanto Pereira já viveram a mesma expectativa em 2019, quando faziam parte do grupo próximo ao então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PSDB-RJ), e buscavam seu apoio para sucedê-lo. Maia, contudo, optou por lançar o nome de Baleia Rossi (MDB-SP), derrotado por Lira.

Insatisfeito, Elmar, então correligionário de Maia no DEM, rachou o partido e levou metade da bancada para o lado de Lira. Pereira, por sua vez, tentou angariar apoio de partidos da esquerda para entrar na disputa, mas, sem sucesso, abriu mão da candidatura em favor do atual presidente da Câmara.

Tido por seus pares como o principal cabo eleitoral na Casa, Lira faz mistério sobre em quem vai apostar. Questionado, disse não ver uma disputa antecipada. A disputa, porém, já provocou uma divisão da Câmara em dois superblocos partidários. Um grupo, liderado por União Brasil e PP, é mais próximo de Lira e tem Elmar como pretenso candidato. O outro abrange MDB, PSD, Republicanos e Podemos, e tem Pereira, Brito e Isnaldo como alternativas.

Aliados apontam Elmar como o favorito de Lira, e citam movimentos recentes do presidente da Câmara como indicativo — por exemplo, a tentativa de emplacá-lo como ministro. A empreitada, contudo, foi barrada por integrantes do PT baiano, de quem o deputado do União é adversário político. Procurado para comentar a disputa, Elmar não quis se manifestar.