Organizações civis, moradores e pescadores da Ilha de Boipeba estão fulos com a autorização concedida esta semana pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) da Bahia para o corte de Mata Atlântica e o início das obras de um resort da Mangaba Cultivo de Coco Ltda.

A empreitada turístico-imobiliária fica na Fazenda Ponta dos Castelhanos, no sul da ilha. A licença de instalação abarca uma área similar à de 1.700 campos de futebol, com infraestrutura viária, aeródromo, pousadas, píer, 67 lotes residenciais e 2 dois lotes para atividades sociais.

Segundo o site, ((o)) eco, em abril de 2019, o empreendimento está em áreas protegidas por lei federal e a empresa de cultivo de frutas tem como sócios José Roberto Marinho, um dos herdeiros do Grupo Globo, e Armínio Fraga, economista e ex-presidente do Banco Central no governo (1999-2003). Na reportagem, a liderança Raimundo Esmeraldino Silva, o Siri, alertou que áreas tradicionais de pesca eram bloqueadas, barracos de pescadores foram derrubados e que moradores que trabalhavam em fazendas tinham empregos ameaçados para “engolir o projeto”.

“Nunca plantaram [a empresa] um pé de coco, nem de mangaba. Pelo contrário, querem tirar os pés de mangaba que são parte de nossa renda e alimentação. Sempre tiramos nosso sustento da agricultura, do extrativismo e da pesca. Estão acabando com nossa cultura e nossa identidade”, desabafou Silva.

Análises do Ministério Público da Bahia sobre o licenciamento do Ponta dos Castelhanos determinaram a regularização fundiária de comunidades tradicionais e verificaram conflitos de competência entre órgãos públicos e impactos em mangues, nascentes e áreas de desova de tartarugas marinhas. O novo governador da Bahia, o autodeclarado indígena Jerônimo Rodrigues (PT) manteve intacta a direção do Inema. Em reportagem de fevereiro em ((o))eco, entidades civis declaram que as gestões do partido no estado foram uma “escola para a má gestão ambiental de Bolsonaro e Ricardo Salles”.