A morte de um jovem de 17 anos, após levar um tiro de um policial militar, levou moradores da localidade do Alto do Bom Gosto, na Calçada, a incendiar um ônibus, na tarde de ontem, e interromper o trânsito na Rua Nilo Peçanha, uma das principais vias do bairro
Segundo familiares, Emerson de Souza da Silva foi baleado na cabeça por policiais das Rondas Especiais (Rondesp) quando passava por uma escadaria do bairro, na madrugada de sábado.
“Ele estava voltando de uma festa na Liberdade depois da meia-noite. Os policiais chegaram e algumas pessoas que estavam no local correram. Ele, como era inocente e não devia nada, ficou. Os policiais queriam que ele desse conta de quem correu, mas ele não sabia nada sobre isso”, afirmou a dona de casa Daniela Alexandrino, 31 anos, vizinha considerada mãe de criação do jovem.
“Como ele não sabia nada sobre as pessoas que correram, os policiais atiraram nele ali mesmo na escada”, disse um irmão de Emerson, 15 anos. O jovem foi levado, na madrugada do sábado, para o Hospital Geral Ernesto Simões Filho, no Pau Miúdo, onde estava internado. Ele morreu às 5h de ontem.
De acordo com os manifestantes, foi levado até o hospital pelos próprios policiais. “Levaram porque se tocaram que ele era inocente”, afirmou um morador da localidade, que pediu para não ser identificado.
Segundo parentes, Emerson cursava o 1º ano do ensino médio e vendia frutas com o pai e o irmão na Estação Rodoviária da Calçada. A Polícia Militar confirmou, em nota divulgada à imprensa, que o tiro que atingiu o jovem partiu da arma de um policial, mas informou que ele foi baleado durante um tiroteio no bairro.
Uma investigação foi aberta pela PM para apurar o caso. A nota diz que policiais da Rondesp foram recebidos a tiros durante uma ronda no bairro na madrugada de sábado. Segundo a PM, Emerson foi atingido quando os policiais revidaram os disparos. A polícia informou ainda que com ele foi apreendido um revólver Rossi calibre 38, 20 trouxinhas de maconha e 94 pedras de crack.
A versão da polícia foi contestada pelos manifestantes. “A arma e a droga foram colocadas pelos policiais pra dizer que ele era envolvido. Eles também deram vários tiros para cima pra dizer que teve troca de tiros, mas não teve”, disse um morador do local que pediu para não ter o nome divulgado.

Bombeiro controla chamas em ônibus que ficou destruído após ser incendiado por manifestantes, na tarde de ontem, no bairro da Calçada (Foto: Almiro Lopes)
“Ele era um menino muito bom, não tinha envolvimento (com crimes). Foi malvadeza o que fizeram com ele”, afirmou Taíse Silva, 37 anos, tia do garoto. O Corpo de Bombeiros conseguiu controlar as chamas do ônibus incendiado. O veículo, da empresa Expresso Vitória, ficou destruído.
Por causa da manifestação, que começou por volta das 16h, o trânsito no trecho entre a Calçada e o bairro do Comércio ficou congestionado. Segundo a Transalvador, houve engarrafamento em ruas do Comércio e em parte da Avenida Suburbana até as 20h.
Os manifestantes disseram que não denunciaram a morte de Emerson à Polícia Civil por medo. “A gente fica com medo porque envolve policial”, disse Daniela Alexandrino. “A gente tem medo que nenhum dos culpados seja punido”, disse ela. O corpo de Emerson será enterrado hoje, às 10h, no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas.
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