Em uma cerimônia marcada por discursos fortes e apresentação fraquíssima de Neil Patrick Harris, o Oscar 2015 consagrou “Birdman”, dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu. Foram quatro prêmios: filme, diretor, fotografia e roteiro original.
Estrela de “Birdman”, Michael Keaton não levou o troféu de melhor ator, que ficou para Eddie Redmayne, de “A Teoria de Tudo”. Como era esperado, Julianne Moore foi escolhida melhor atriz por “Para Sempre Alice” e os prêmios de coadjuvante ficaram para J.K. Simmons, por “Whiplash – Em Busca da Perfeição”, e Patricia Arquette, por “Boyhood”.
Iñárritu se tornou o segundo mexicano a ganhar o Oscar de direção, depois de Alfonso Cuarón ter levado no ano passado por “Gravidade”. “Dois seguidos, deve ser meio suspeito”, brincou o cineasta, para depois falar sério:
“Aos que vivem no México, espero que possamos encontrar e construir o governo que merecemos. À nova geração de mexicanos que vive nesse país [os EUA], rezo para que vocês sejam tratados com a mesma dignidade dos que vieram antes e ajudaram a construir essa incrível e imigrante nação.”
“Birdman” empatou com “O Grande Hotel Budapeste” em números de Oscar, já que o filme de Wes Anderson levou quatro categorias técnicas (figurino, cabelo e maquiagem, trilha sonora e direção de arte). “Whiplash” triunfou em três categorias: além de ator coadjuvante, mixagem de som e edição.
Feminismo em Hollywood
Considerado o favorito durante meses, “Boyhood” contabilizou apenas o prêmio de Arquette, protagonista de um dos grandes momentos da noite. Seu discurso começou convencional, listando nomes escritos em um pedaço de papel, mas terminou exigindo igualdade salarial para as mulheres – em Hollywood e em todo o país.
“A toda mulher que deu à luz, a todos os contibuintes e cidadãos dessa nação, nós lutamos pelos direitos iguais de todo mundo. É hora de termos igualdade salarial de uma vez por todas. E direitos iguais para todas as mulheres nos Estados Unidos”, afirmou, sendo ovacionada pela plateia – e em particular por Meryl Streep e Jennifer Lopez, que foram filmadas vibrando muito, no que virou a imagem-símbolo do Oscar 2015.
Foi um recado feminista em um Oscar que debateu a situação das mulheres antes mesmo de começar. O tradicional tapete vermelho foi marcado pela expectativa de perguntas menos superficiais às atrizes, após uma campanha nas redes sociais, intitulada #AskHerMore. É difícil dizer se funcionou, mas Reese Witherspoon, por exemplo, foi questionada sobre o tema: “Somos mais do que nossos vestidos”, disse.
“Continuem diferentes”
O momento mais emocionante ficou por conta de Graham Moore, ganhador do prêmio de roteiro adaptado por “O Jogo da Imitação”. O flme é a cinebiografia de Alan Turing, matemático que decifrou códigos nazistas e nos anos 1950 foi enquadrado na antiga lei britânica que criminalizava a homossexualidade.
No palco do Oscar, Moore afirmou ter tentado o suicídio aos 16 anos, por se sentir “diferente”. “Gostaria que este momento fosse para aquela jovem que se sente estranha, diferente, como se não pertencesse a nenhum lugar. Você pertence. Continue estranha. Continue diferente. E quando for a sua vez e você estiver neste palco, por favor, passe a mesma mensagem adiante.”
O tema do suicídio foi mencionado também por Dana Perry, uma das diretoras de “Crisis Hotline: Veterans Press 1”, que ganhou o Oscar de melhor curta de documentário ao lado de Ellen Goosenberg Kent. Perry contou que o filho pôs fim à própria vida aos 15 anos. “Precisamos falar bem alto sobre o suicídio”, afirmou.
Neil Patrick Harris
Quando saiu do palco, a diretora foi alvo de uma piada de Harris: “É preciso ter ‘bolas’ para usar um vestido assim”, disse, em referência às bolas de tecido que enfeitavam a roupa de Perry. Tendo ela acabado de falar do suicídio do filho, não pegou bem.
Elogiado como apresentador do Tony e do Emmy, Harris foi um desastre no Oscar. Logo de início, usou um trocadilho para mencionar a falta de atores negros entre os indicados, dizendo que o prêmio reconhecia os “melhores e mais brancos”. Não fez sucesso.
Partiu, então, para um número musical com os atores Anna Kendrick e Jack Black, que fazia um elogio aos filmes que “formam quem nós somos” e “não são a vida real, mas mostram o que a vida realmente significa”. Também não emplacou.
Daí em diante, fez uma piada pior que a outra: comparou “Sniper Americano” à apresentadora Oprah Winfrey, para surpresa da própria: “Porque você é rica”, explicou, fazendo referência ao sucesso do filme nas bilheterias; apresentou a francesa Marion Cotilard como alguém que “sabe o jeito certo de pronunciar escargot”; e fez um trocadilho com o nome de Reese Witherspoon que, se traduzido para o português, seria tão infame quanto a famosa piada do pavê.
Seu melhor momento foi quando recriou a cena em que Michael Keaton fica preso para fora do teatro e precisa sair de cueca pela Times Square – uma piada que, aliás, já tinha sido feita na noite anterior, na entrega do Spirit Awards, o prêmio do cinema independente.
Música e mais prêmios
Com um apresentador tão fraco, os bons momentos ficaram a cargo dos premiados. Common e John Legend foram ovacionados ao apresentar “Glory”, tema do filme “Selma”, que levou o troféu de canção original.
Momentos musicais não faltaram. Além das apresentações de todos os indicados a canção original (com destaque para a de “Everything Is Awesome”, do filme “Uma Aventura Lego”, durante a qual estatuetas de brinquedo foram distribuídas para a plateia), também houve duas homenagens: Jennifer Hudson cantou depois do clipe sobre os artistas que morreram desde o último Oscar (Joan Rivers foi notável omissão), e Lady Gaga fez um tributo aos 50 anos de “A Noviça Rebelde”, recebendo um abraço da atriz Julie Andrews.
“Citizenfour” confirmou o favoritismo e levou melhor documentário, batendo “O Sal da Terra”, produção de Brasil, França e Itália. “Operação Big Hero” ficou com o prêmio de melhor animação e “Ida” deu à Polônia seu primeiro Oscar de filme estrangeiro.
O diretor de “Ida”, Pawel Pawlikowski, foi um dos destaques da noite ao resistir por duas vezes às tentativas da orquestra de fazê-lo encerrar o discurso. O cineasta continuou falando, só saiu do palco quando quis e inspirou outros ganhadores a fazer o mesmo e mostrar o que acontece quando se ignora a deselegante música da Academia: nada.
Veja todos os ganhadores do Oscar 2015:
Melhor filme: “Birdman”
Melhor diretor: Alejandro González Iñárritu, “Birdman”
Melhor ator: Eddie Redmayne, “A Teoria de Tudo”
Melhor atriz: Julianne Moore, “Para Sempre Alice”
Melhor ator coadjuvante: J.K. Simmons, “Whiplash – Em Busca da Perfeição”
Melhor atriz coadjuvante: Patricia Arquette, “Boyhood – Da Infância à Juventude”
Melhor roteiro original: “Birdman”
Melhor roteiro adaptado: “O Jogo da Imitação”
Melhor animação: “Operação Big Hero”
Melhor filme estrangeiro: “Ida”, da Polônia
Melhor documentário: “Citizenfour”
Melhor edição: “Whiplash – Em Busca da Perfeição”
Melhor fotografia: “Birdman”
Melhor direção de arte: “O Grande Hotel Budapeste”
Melhores efeitos visuais: “Interestelar”
Melhor edição de som: “Sniper Americano”
Melhor mixagem de som: “Whiplash – Em Busca da Perfeição”
Melhor figurino: “O Grande Hotel Budapeste”
Melhor cabelo e maquiagem: “O Grande Hotel Budapeste”
Melhor trilha sonora original: “O Grande Hotel Budapeste”
Melhor canção original: “Glory”, do filme “Selma”
Melhor curta-metragem: “The Phone Call”
Melhor curta-metragem de animação: “O Banquete”
Melhor curta-metragem de documentário: “Crisis Hotline: Veterans Press 1”
Do IG
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