A Polícia Civil do Rio vai pedir a prisão de pelo menos mais sete pessoas envolvidas no esquema de venda ilegal de ingressos para a Copa do Mundo, entre elas um funcionário estrangeiro do alto escalão da Federação Internacional de Futebol (Fifa), hospedado no hotel Copacabana Palace, e um chinês que administra as vendas em São Paulo.
As onze pessoas presas temporariamente desde terça-feira podem ter a prisão preventiva decretada na semana que vem, segundo o delegado responsável pelas investigações, Fábio Barucke. Ele informou que um dos presos quer negociar a delação premiada em troca de informações importantes. O suspeito disse o nome do funcionário da Fifa, mas o delegado o mantém sob sigilo.
“É um nome comum, mas falta a qualificação completa. A Fifa talvez possa nos auxiliar nesta identificação”, disse. Ele calcula que a quadrilha chegava a faturar R$ 2 milhões por jogo. “Os preços variavam de acordo com a procura, como uma bolsa de valores. Houve ingressos para a final que custaram R$10 mil no início e R$ 15 mil depois. Eles disseram que se o Brasil fosse para a final cobrariam R$35 mil”, contou o delegado.
Um dos presos, o franco-argelino Lamine Fofana, tinha acesso aos ingressos mais valiosos, do tipo Hospitality, da Fifa e da Match, empresa parceira da entidade. Policias civis infiltrados em uma festa feita por Lamine Fofana filmaram o suspeito distribuindo ingressos. “Ele tem relacionamento com diversos jogadores de futebol e transita nesse meio”, explicou Barucke.
Serão ouvidos, como testemunhas, o ex-técnico da seleção brasileira Dunga, que teve várias ligações interceptadas com Fofana, e o ex-jogador Júnior Baiano, que alugou o apartamento para o franco-argelino em uma relação contratual normal, segundo o delegado.
A polícia busca também a identificação de um morador da Vila Kennedy, que pegava os ingressos dados a organizações não governamentais e os entregava para a quadrilha. As interceptações telefônicas revelaram que o grupo atuou em quatro mundiais. Um dos detidos havia declarado ser jornalista na Copa de 1998.
As escutas evidenciaram que a fiscalização no Brasil surpreendeu os cambistas. “As apreensões de ingressos feitas durante a Copa causaram medo na quadrilha, e eles repetiram que só na Copa do Brasil que isto estava acontecendo, que nunca haviam passado por repressão tão grande”, disse ele.
Para o coordenador estratégico da Polícia Civil na Copa do Mundo, Tarcísio Jansen, a forma de distribuição de ingresso feita pela Fifa fomenta o cambismo. “Há um certo descontrole. Esta operação será um grande aprendizado para a Fifa”, disse ele. Jansen garantiu que não haverá impunidade para aqueles que forem julgados culpados, mesmo para os estrangeiros que saírem do país. “Quem não for preso terá o mandado de prisão entregue a todas as agências de polícia internacional, e o condenado terá restrição em circular pelo mundo”, contou ele.
A Fifa disse que não se pronunciará sobre o caso, até receber informações oficiais sobre as investigações. “É muito mais fácil concluir que a pessoa é da Fifa, mas talvez ela não seja. Para concluir, precisamos de informações validadas e vamos aguardar”, disse a porta-voz, Delia Fischer.
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