A esfera política tem uma dívida histórica com as mulheres, por ter nos deixado alheias às decisões do nosso país e da forma mais primordial que deve ser: como cidadãs, através da mais suprema expressão democrática: voto. Durante muito tempo, esse direito nos foi negado, pois éramos vistas como “cidadãs de menor escalão”. Sem ter como atuar no mercado profissional ou na vida pública, nos restava apenas cuidar dos filhos e da casa, represando a imensa capacidade de participação e colaboração que todas nós carregamos.
A política é um reflexo dessa sociedade estruturada no homem como o centro, uma lógica que nos prejudicou e desfavoreceu o nosso protagonismo, pois já começamos essa corrida em condição de desigualdade. Com os avanços na luta das mulheres por equidade e a consolidação do estado democrático de direito, apesar de muitas coisas terem mudado, ainda não vivenciamos o cenário ideal.
No Brasil, as mulheres são quase 50% dos filiados a partidos políticos, mas no momento de montar a lista dos candidatos a deputado federal, elas ficam com apenas 30% das vagas, percentual mínimo imposto pela legislação eleitoral e os partidos, ano a ano, batalham para que fique no mínimo. Para se ter uma ideia sobre a participação das mulheres na política, elas representam apenas 12% dos prefeitos eleitos no primeiro turno das eleições de 2020, já no congresso, elas ocupam apenas 15% das vagas. Na hora de escolher quem vai à vera para a disputa eleitoral, a balança pende para o lado dos homens por conta da experiência política acumulada e isso só acirra o abismo da desigualdade de gênero: mulheres não têm as mesmas oportunidades de construção do capital político que os homens.
Se somos maioria na composição da população brasileiro, a cota deve ser para nós um piso e não um concessão. Portanto, é hora de dar um basta aos homens que olham torto para afirmação e militância feminina na política. Alguns jogam para a torcida, reagem de uma forma em pública e não hesitam em minar as candidaturas e o espaço das mulheres. A hipocrisia é companheira de estrada dessa gente!
Ainda temos um longo caminho a percorrer na luta pela igualdade e participação plena na política do nosso país. É a soma de lutas das que vieram antes da gente, como, por exemplo, Deolina Daltro, que fundou o Partido Republicano Feminino, professora Celina Guimarães, que reivindicou sua inclusão no rol de eleitores, no Rio Grande do Norte, tornando-se a primeira mulher habilitada a votar na América do Sul e Luíza Alzira Soriano Teixeira, foi eleita a primeira prefeita no Brasil e na América Latina, na cidade de Lajes/RN, que nos dará o gás necessário para acreditarmos que desistir nunca será uma opção.
A nossa tarefa é não aceitar a estrutura como está (im)posta e nos conscientizarmos de que podemos e devemos ocupar todos os espaços da esfera pública, privada e política do nosso país, pois somos protagonistas da nossa história, da nossa vida, da nossa voz, que não precisa ser validada para ecoar por aí.
O censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que somos a maioria da população brasileira – 52,2% (109,4 milhões) e não podemos aceitar uma representação aquém do que somos de fato ou nos acomodarmos com um percentual que é apenas reparação.
Os tempos mudaram, as máscaras já não conseguem ser sustentadas por muito tempo, a verdade sempre aparece. Como existe uma máxima na vida que tudo o que plantamos, iremos colher, sigo firme a minha caminhada afastando as pedras, energias ruins e falas em tom ameaçador. Como diz a sabedoria popular: faz o teu “bença”, deixa os outros. É bem por aí!
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