A vereadora Ireuda Silva (Republicanos), que preside a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, foi atacada moral e fisicamente por professores em frente à Câmara Municipal de Salvador (CMS) na tarde desta segunda-feira (12), quando os vereadores aprovaram um reajuste de 8% nos salários dos servidores da educação, que queriam um aumento de 20%. O projeto de lei do Executivo foi aprovado por unanimidade, em acordo entre governistas e oposição, que votou unida a favor da matéria. De acordo com os vereadores, após estudo realizado na Casa, um reajuste de 20% seria impraticável e impossível de manter pela prefeitura. A frase mais proferida foi que a vereadora é “a vergonha do povo negro”.

Segundo Ireuda e testemunhas que estiveram no local, a vereadora foi cercada por dezenas de servidores insatisfeitos, que proferiram frases de teor racista e machista colocaram o dedo na cara da edil. Ainda de acordo com observadores, os outros vereadores, quase todos homens e mulheres brancos, não receberam o mesmo tratamento hostil. “Acho que por ela ser mulher e negra e defender bandeiras relacionadas a isso tentaram constrangê-la. As vereadoras brancas não sofreram esse tipo de ataque. Mas ela foi uma heroína, não perdeu o equilíbrio, mesmo com dedo de homem na cara”, disse uma testemunha. Saíram vários vereadores homens e brancos, mas os servidores não falaram nada”.

A vereadora afirmou que entende a insatisfação e a pauta dos servidores, mas que se sentiu triste com o ocorrido. “Seria impossível manter os 20%, se tivessem sido aprovados. Todas as pautas e reivindicações são legítimas, mas precisam ser defendidas no âmbito da política, com equilíbrio e sensatez, sem ofender a honra das pessoas. O que mais me deixou triste foi terem dito que sou a vergonha do povo negro, como se eu fosse uma criminosa. Ao contrário disso, todo mundo sabe que tenho uma trajetória reconhecida de combate ao racismo. Essas ofensas vieram de mulheres e homens negros, que deveriam ter a consciência de que são atitudes como essa que nos enfraquecem e nos dividem. Isso só faz fortalecer o racismo e o machismo, que todos os dias mata tantos de nós”, disse.

A vereadora também ressaltou que a votação foi construída com base em um consenso construído com todos os vereadores, incluindo a oposição, que inclusive tem vereadores defensores das pautas dos professores. “Tenho uma responsabilidade como vereadora, com a lei e com o erário público. Uma coisa é votar em algo que não tem como sustentar, que não tem como pagar”, disse.