De um lado, no recém-criado bloco Vumbora, estavam os bellzeiros, que iriam curtir o primeiro Carnaval com seu ídolo em carreira solo; do outro, no tradicional Nana Banana, os chicleteiros diziam ter saudades do antigo vocalista.
O clima no circuito Barra-Ondina, sexta-feira, antes dos dois blocos saírem, era de dúvidas, principalmente, entre os fãs do Chiclete com Banana, que estavam meio desconfiados de como seria o desempenho do vocalista Rafa Chaves em seu primeiro Carnaval na banda. “Eu tô indo no Nana só por causa da minha galera. Além disso, embora eu goste de Bell, acho que ele não teve uma atitude bacana com os outros membros da banda”, disse o advogado Rodrigo Maciel, 25 anos, que havia comprado seu abadá por R$ 70 uma semana antes.
Uma redução e tanto no valor, já que, no ano passado, ele havia desembolsado dez vezes mais por um dia no Camaleão, quando Bell estava se despedindo do Chiclete.
Violino
Outro fã do cantor, o engenheiro civil Felipe Palhares, 29, que também ia sair no Nana, não estava satisfeito com as mudanças do ídolo: “Ele pôs violino e violoncelo nos arranjos e não gostei. Acho música clássica legal, mas tudo tem sua hora, né? Soube que ele fez um show na Praia do Forte e tava muito vazio. Acho que, no fim, tanto o Chiclete como Bell saíram perdendo”.
Mas quem estava se preparando para sair no Vumbora estava muito animado, como o advogado pernambucano Acled Ferreira, 37, que sai pela sexta vez com Bell no vocal: “Assim que Bell anunciou que ia sair do Chiclete, eu decidi segui-lo onde que quer ele fosse. O jeito dele e a energia me fizeram ficar com ele”, disse o fã enquanto exibia uma faixa que mostrava uma foto dele com o ídolo.
Rafa Chaves
Mas, depois que o bloco entrou na avenida, os fãs do Nana começaram a mudar de opinião e não sentiram tantas saudades assim de Bell. A fisioterapeuta Flávia Góes, que era uma das que estavam com um pé atrás, mudou de opinião quando o desfile do Nana terminou: “Eu achava que não ia ser bom, mas minhas expectativas foram bem superadas. Achei Rafa muito bom e ele tem uma energia ótima. E, pra falar a verdade, não senti falta de Bell. Rafa conseguiu substituir muito bem!”.
A mesma Flávia se queixava, antes de o bloco sair, dizendo, conformada, que estava saindo no Nana só por causa da “boa oportunidade”. Leia-se: por causa do preço baixo.Enquanto isso, no Vumbora, alguns, como o alagoano Luís Gonzaga, se queixavam do repertório que Bell havia apresentado: “Eu já tinha saído no Camaleão algumas vezes e preferia o repertório do Chiclete. Bell cantou muita coisa da carreira solo e também de outros artistas. No Camaleão, eram cinco ou seis horas seguidas de Chiclete”.
Decepção
Luís estava tão decepcionado que abandonou o bloco algumas vezes durante o percurso. “Não aguentava mais ouvir a música dos peixinhos, dos filhos de Bell. Que eu me lembre, foram pelo menos três vezes”, reclamou o folião.
Bell tratou de se defender e diz que faz de tudo pra agradar o folião: “Sempre falta alguma coisa, mesmo o repertório sendo longo. São 30 anos de história. Vou mudando uma coisa ou outra todos os dias pra tentarmos agradar o folião ao máximo!”.
O vocalista Rafa Chaves, que estreou naquele dia num Carnaval como integrante do Chiclete, aproveitou muito o momento: “Acho que só vou me emocionar daquele jeito quando eu tiver um filho. Eu, que já era fã do Chiclete, me emocionei demais cantando músicas como Vem”.
Elogios
Wadinho, tecladista e um dos sócios do Chiclete, fez muitos elogios ao desempenho do vocalista: “Ele foi fantástico! E olha que fomos prejudicados pelo atraso de mais de uma hora. Recebemos muitos elogios dos fãs e temos certeza que isso não foi só da boca pra fora porque o bloco chegou cheio no fim do percurso. Quase ninguém saiu antes de terminar”.
Apesar de satisfeito com o desempenho do bloco na avenida, Wadinho reconhece que o mercado do Carnaval passa por problemas: “Mas a crise não é só do Carnaval nem do axé, mas da economia brasileira. E todos os blocos, sem exceção, foram obrigados a fazer promoções para vender tudo”, garante.
Segundo o empresário, até o Camaleão, bloco que tinha o abadá mais valorizado do Carnaval e era vendido por mais de R$ 1 mil por dia, teve que recorrer a promoções. “A economia do Carnaval tinha tanta especulação que parecia a Serra Pelada nos anos 80, onde exploravam o ouro. Mas é hora de se rever isso e cobrar um preço mais adequado”, disse o tecladista.
Rafa Chaves reconhece que havia nas ruas abadás sendo vendidos a preços baixos, mas garante que, na sede do Nana, as fantasias tinham acabado e teve até confusão na porta, com os seguranças precisando interferir. “No Instagram, quando publicamos que os abadás estavam esgotados, os preços logo subiram. Tinha vendedor anunciando por R$ 150, mas aumentaram para R$ 250”, revelou o vocalista.
Alegria
Enquanto isso, Bell Marques nega a crise: “Engraçado que, perto do Carnaval, inclusive agora durante a festa, as vendas explodiram!”. Para o vocalista, é normal que os fãs fiquem em dúvida sobre os seus rumos na carreira solo e isso pode mesmo ter deixado seus seguidores afastados. Mas, para ele, os fãs mudaram imediatamente de opinião: “Acho que logo nos meus dois primeiros dias na rua, muitos conseguiram enxergar que pouco mudou em termos de energia e alegria!”.
E tanto Bell como o Chiclete juram que não há nenhum acordo em andamento para que os dois se juntem novamente. O vocalista é bem enfático: “Não tem fundamento, não. Serei eternamente chicleteiro e sempre terei um carinho enorme por tudo o que vivemos juntos, mas foi uma decisão tomada com muito cuidado”.
E Bell segue no Camaleão, que sai de hoje a terça no Barra-Ondina, enquanto o Chiclete vai dar uma volta pelo país, com shows em Minas e São Paulo no resto da folia.
Oito7Nove4, a nova geração da família Marques
Formada por Pipo, 20 anos, e Rafa Marques, 27, que são filhos de Bell Marques, a dupla Oito7Nove4 fez a festa dos foliões no Circuito Barra-Ondina, na noite de sexta, puxando o bloco Banana Coral.
O ponto alto do repertório dos cantores foi o sucesso Se Você Fosse Um Peixinho, que o paizão Bell também tem interpretado muito em suas apresentações neste Carnaval. No último dia 10, a dupla teve seu terceiro álbum encartado no Correio*: foram 80 mil CDs.
Do Correio da Bahia
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