Uma campanha de mobilização social de nível global, chamada MenCare, promove desde o início da segunda década no Brasil e em outros países o maior envolvimento dos homens na paternidade. O objetivo é envolver mais os pais e cuidadores, de forma equitativa às mulheres e sem violência, na criação dos filhos.
No Brasil, a iniciativa faz apelos ao Estado e à sociedade. “Precisamos de políticas públicas que promovam essa masculinidade ressignificada, mas precisamos trabalhar com o terceiro setor e com as empresas”, aponta Rodrigo Laro, consultor de Pesquisa e Monitoramento do Instituto Promundo, organização não governamental responsável pela campanha no Brasil e em outros países.
A campanha ganhou uma meta imediata no Brasil: fazer com que os pais dediquem mais 50 minutos diários aos filhos, inclusive em tarefas como dar banho, preparar comida, acompanhar estudos – rotinas que sobrecarregam as mulheres na segunda jornada de trabalho. “A gente está falando de mudar a perspectiva de criação da criança”, afirma o consultor.
Segundo Rodrigo Laro, “não é só uma questão de comportamento, estilo de vida, cultura ou política. Estamos falando de várias determinantes sociais que compõem isso. O nosso pano de fundo é o cuidado. Como é que nós conseguimos formar crianças, meninos, mais cuidadosos. Como é que a gente pode mostrar para eles desde cedo que o cuidado tem a ver com o prazer, com a saúde, com o bem estar.”
Homens brincam com os filhos, mas cuidam menos
Faz parte da iniciativa a realização periódica de pesquisas primárias e levantamentos secundários sobre a situação da paternidade em várias partes do mundo. No ano passado, o Instituto Promundo divulgou os resultados de enquete realizada no Brasil e em mais seis países.
Na amostra brasileira, a pesquisa foi aplicada pela internet, no segundo semestre de 2018, a 1.709 pessoas de 25 a 45 anos – desses, 1.141 eram homens (sendo 790 pais) e 560 eram mulheres (das quais 380 eram mães).
Na distribuição regional (concentrada no Sudeste) e composição da cor (predominantemente branca), a pesquisa não é representativa do conjunto da população brasileira, mas traz indicações de comportamento e de expectativas que podem ser generalizadas: “em decorrência da dupla jornada, as mulheres brasileiras trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana.”
A pesquisa também verificou que “a maioria dos pais brasileiros relata brincar com as crianças (83%), no entanto, atividades como cozinhar (46%) e dar banho (55%) são bem menos citadas.”
O levantamento também mostra que “apesar do desejo expresso pela grande maioria dos homens (82%), de envolverem-se mais nos cuidados de suas filhas e filhos durante as primeiras semanas e meses de suas vidas, menos de um terço dos pais entrevistados que tinham direito à licença paternidade tiraram os cinco dias previstos em lei.”
Conforme matéria divulgada pela Agência Brasil na última quarta-feira (7), a presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Cristina Peduzzi, defendeu a adoção no Brasil de licenças parentais, do pai e da mãe de forma alternada, como ocorre em outros países.
Ela disse, durante webinar promovido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que “esse tipo de política favorece o redesenho da divisão sexual do trabalho, retirando a responsabilidade exclusiva da mãe pelo afastamento em razão da maternidade e distribui o dever do cuidado, como uma forma de estímulo ao pai, uma vez que ambos estarão compartilhando esse afastamento do mercado de trabalho em igualdade de condições.”
Sem Comentários!
Não há comentários, mas você pode ser o primeiro a comentar.