Propostas para aproximar os segmentos culturais do conteúdo produzido na Rádio Educadora e na TV Educativa da Bahia, mais conhecida como TVE, foram discutidas na última terça-feira, 26, na Sessão Plenária do Conselho Estadual de Cultura. O evento aconteceu na sede do Conselho, no Campo Grande, e contou com a presença do diretor-geral do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), Flávio Silva Gonçalves.

À frente do IRDEB desde janeiro deste ano, o diretor-geral apresentou um panorama do trabalho atual de reestruturação implantado com o objetivo de tornar os meios de comunicação pública da Bahia uma referência nacional. Uma das estratégias nesse processo envolve a aproximação com os diversos setores culturais do estado, algo que começa a ser pensando também com o apoio do Conselho Estadual de Cultura.

“O Conselho é um espaço que reúne integrantes da sociedade civil e do governo, é um instrumento fundamental para debater, criticar e eventualmente elogiar as políticas públicas. Isso representa um processo de amadurecimento”, afirmou Gonçalves. O debate com os integrantes do Conselho aconteceu durante a manhã, com mediação do presidente do órgão, Márcio Ângelo Ribeiro, que está comprometido em estreitar o diálogo entre as demandas da comunidade cultural e o IRDEB.

“Os meios de comunicação do IRDEB são públicos e precisam estar próximos da comunidade, em especial nas cidades do interior. Fortalecer o IRDEB, em especial a TVE, é garantir que as ações culturais cheguem à sociedade com credibilidade e respeito à pluralidade cultural do nosso estado. É uma dinâmica diferente dos grupos de comunicação privados, e nosso foco precisa ser a comunicação pública e de qualidade”, comentou o presidente.

Crédito: Ascom CEC / Mariana Campos
Flávio Gonçalves, diretor do IRDEB, entre os conselheiros Márcio Ângelo e Tito Silva

FORTALECIMENTO – O diretor-geral do IRDEB explicou que a atual gestão prevê foco em três áreas de atuação: infraestrutura, divulgação e conteúdo, setores que funcionam a partir do planejamento ligado aos recursos financeiros e de colaboradores. Um dos principais desafios está na infraestrutura. É calculado em R$ 15 milhões o valor necessário para obras na estrutura do IRDEB. Além disso, são necessárias melhorias nas condições de trabalho. Hoje, o órgão possui apenas uma unidade móvel para transmissões ao vivo e quatro funcionários habilitados para manutenção das antenas no interior.

Gonçalves destacou a importância do IRDEB buscar novas parcerias em diversos segmentos, tais como saúde, esporte, ciência e tecnologia, criança e adolescente, dentre outras, uma vez que TVs e rádio públicas precisam ter interlocução com toda a sociedade civil. Outro desafio importante para a instituição é em relação ao orçamento que, em 2016, conta com pouco mais de R$ 30 milhões. “Nossas limitações em relação aos recursos humanos são grandes também. O último concurso foi em 1992 e 50 % dos nossos funcionários já possuem idade para se aposentar. É um cenário bem difícil e precisamos encontrar uma solução”.

Crédito: Ascom CEC / Mariana Campos
Integrantes do Conselho: Arany Santana, DJ Branco e Emílio Tapioca

Quando o assunto é o conteúdo, Gonçalvez reforçou que o IRDEB tem investido em transmissões que fogem do modelo hegemônico das televisões privadas. Isso significa fortalecer o diálogo com eventos que simbolizam a democratização do acesso à informações. No Carnaval, por exemplo, a TVE investe na cobertura dos blocos afros e afoxés, em especial ao Carnaval Ouro Negro, projeto da Secretaria Estadual de Cultura (SecultBA), lançado em 2008, e coordenado pelo Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI).

No âmbito da divulgação, o diretor apontou ações ligadas à inserção da TVE e da Rádio Educadora nas redes sociais, além de outros canais de interatividade com o público. Está sendo planejado, inclusive, um aplicativo para ampliar o diálogo com telespectadores e ouvintes. “Todos os dias temos produtores culturais e artistas que produzem conteúdo. Poderíamos receber, avaliar e eventualmente exibir esses materiais”, reforçou, após pontuar que “as pessoas querem exercer a comunicação na prática”, algo que amplia a necessidade de “espaços de interação”.

SUGESTÕES – Após a apresentação, integrantes do Conselho reforçaram o apoio ao IRDEB e apresentaram sugestões. Uma das contribuições veio da conselheira de cultura Arany Santana alertou a importância de interiorizar o IRDEB com objetivo de visibilizar as festas e manifestações populares.

A conselheira propôs a realização de um mapeamento das manifestações populares do estado, em especial das que desapareceram pela falta de fomento. “A Bahia não se limita apenas a Salvador e Recôncavo. Temos uma enorme riqueza cultural que é a nossa marca identitária. O Brasil vive um conflito de identidade por não conhecer suas raízes”, enfatizou.

Crédito: Ascom CEC / Mariana Campos
“As pessoas conhecem muito pouco o que significa o IRDEB”, disse a conselheira Ana Vaneska

Em seguida, a conselheira Ana Vaneska propôs a realização de um seminário que tenha como pauta o IRDEB e a importância da comunicação pública produzida na TV e rádio. “As pessoas conhecem muito pouco o que significa o IRDEB e como ele funciona. Precisamos pensar qual o lugar do IRDEB na democratização da comunicação”, comentou.

Outra proposta da conselheira é promover parceria para que os meios de comunicação do IRDEB acompanhem as Sessões Plenárias do Conselho e as pautas pertinentes à gestão da cultura, em especial as sessões itinerantes realizada fora da sede do órgão. Por fim, Ana Vaneska lembrou a necessidade de ser cobrado do governo estadual um posicionamento que deixe claro qual o lugar do IRDEB dentro do programa de cultura. “Temos que discutir essa pauta não apenas com o secretário de cultura da Bahia, Jorge Portugal, mas também para o governador Rui Costa. Em seguida, podemos pensar soluções aos problemas apresentados”, finalizou.

Já o conselheiro DJ Branco lembrou a importância dos festivais de rádios públicas e universitárias. À frente do programa Evolução Hip-Hop, na Rádio Educadora, o conselheiro lembrou que a comunicação pública do IRDEB é uma importante ferramenta de “fomento e divulgação da música local e regional”, algo que precisa ser ampliada na perspectiva da política cultural. Um exemplo é o Festival de Música da Rádio Educadora, que tem se tornado uma referência.

“Criaram um programa chamado Conexão Brasil em parceria com a Empresa Brasil de Comunicação onde as rádios funcionam em cadeia. No mesmo horário, uma determinada música é transmitida nas rádios públicas de todo o Brasil. E é importante destacar que isso foi criado a partir do Festival de Música da Rádio Educadora”, finalizou.

O conselheiro Sandro Magalhães lembrou que, ao longo dos últimos anos, a IRDEB deu visibilidade a muitos territórios de identidade cultural com pouca projeção midiática. Diante desse cenário, ele aproveitou para parabenizar o órgão pela preocupação de pensar a cultura em larga escala. “Precisamos pensar na territorialidade da cultura, ter nichos locais de independentes que produzam seus conteúdos. Temos que ter um mapeamento dessa comunicação da Bahia”, completou. Magalhães finalizou alertando a respeito do desafio de atuar na área da cultura, em especial no atual momento político e econômico. “A política pública de cultura precisa fazer enfrentamentos”, completou.

Estavam presentes o presidente do conselho, Márcio Ângelo Ribeiro, o vice-presidente Emílio Carlos Tapioca e os seguintes integrantes do órgão: Acácia Nascimento, Ana Vaneska, Antônio Roberto Pelegrino, Arany Santana Neves Santos, Ary da Mata de Souza, Aurélio Schommer, Erida Beatriz dos Santos,Fábio Mendes, Fernando Teixeira, Fernanda Tourinho, Hamilton Ferreira de Oliveira, Ive Alencar Sacramento Araújo, João Paulo Couto Santos, Jorge Baptista Carrano, José Carlos Paulo da Silva, Luiz Aldo Araújo, Nilo Silva Trindade, Raimundo Nonato, Silvio Roberto Portugal, Tito da Silva, Virginia Coronago e Wilson Mário Santana (Sumário Viola).