A LaMia, companhia aérea contratada pela Chapecoense na tragédia aérea de 29 de novembro de 2016, pode ter sócios ocultos que não aparecem nos processos movidos contra ela pelas famílias das vítimas.

A informação é apresentada pelo documentário Chapecoense: o lado obscuro da tragédia, produzida pela CNN espanhola que vai ao ar nesta sexta-feira (8), às 20h (de Brasília), pelo Esporte Interativo.

Ao longo de pouco mais de uma hora, o jornalista Francho Barón traz novas informações referentes à queda do avião da Chape, às vésperas do jogo contra o Atlético Nacional (COL) pelas finais da Copa Sul-Americana de 2016. Ao todo, 71 pessoas morreram na tragédia, ocorrida nos arredores de Medellín.

A LaMia foi criada na Bolívia em setembro de 2014, com um capital considerado baixo -cerca de US$ 21 mil. Oficialmente, a companha aérea tinha como sócios Miguel ‘Micky’ Quiroga -piloto que morreu na queda do avião- e Marco Antonio Rocha, que está foragido.

Antes disso, porém, o empresário Ricardo Albacete tentou criar uma empresa com o mesmo nome e logomarca na Venezuela, com voos dentro do país e para Aruba. Sem sucesso.

Quando a LaMia foi criada, Albacete foi identificado como o proprietário do avião que transportava a Chapecoense na viagem a Medellín. Legalmente, o empresário -que também foi senador na Venezuela- apenas alugava a aeronave à companhia por US$ 35 mil dólares por mês.

Porém, em documentos mostrados pelo documentário, aparece diversas vezes o nome de Loredana Albacete como diretora da LaMia. Ela é filha de Ricardo e, segundo pessoas entrevistadas na reportagem, agia em nome do pai em decisões dentro da empresa aérea.

Documentos aos quais a CNN teve acesso mostraram que a LaMia recebeu um investimento inicial, entre 2014 e 2015, de US$ 2,7 milhões. O montante foi pago por uma empresa que tinha como sócios o próprio Ricardo Albacete e o empresário chinês Sam Pa.

O que foi revelado é que a quantia foi paga para que Sam Pa comprasse quatro aviões de Ricardo Albacete e criasse uma companhia aérea na África. Desta forma, Marco Antonio Rocha e Micky Quiroga seriam apenas laranjas dos proprietários de fato da companhia.

A negociação entre Pa e Albacete não chegou a ser formalmente concretizada porque, em outubro de 2015, o empresário chinês foi preso. Na época, ele era investigado nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e por fomentar a corrupção no Zimbábue, onde participava de um esquema de tráfico de diamantes.

A reportagem não conseguiu confirmar com autoridades chinesas se Sam Pa segue preso. Ambos não são citados em nenhum dos processos movidos por familiares das vítimas, embora o venezuelano apareça como principal acionista da companhia aérea em processos movidos na Bolívia por ex-funcionários.

SUPERSTIÇÃO

A Chapecoense havia voado com a LaMia quando enfrentou o Junior Barranquilla (COL) fora de casa pelas quartas de final da Copa Sul-Americana de 2016, em 19 de outubro daquele ano. Na ocasião, o que deveria ser uma viagem simples acabou se transformando em um deslocamento de mais de 24 horas.

Originalmente, o time viajaria de Belo Horizonte, onde enfrentou o Cruzeiro no dia 16. para Barranquilla. Só que a companhia aérea contratada não tinha autorização para o deslocamento. Desta forma, a delegação foi em um voo fretado de outra companhia até Corumbá (MS), onde passou a noite.

No dia seguinte, a Chape atravessou a fronteira com a Bolívia por terra e foi à cidade de Puerto Suárez. De lá, embarcou em voo da LaMia até a cidade de Cobija, no norte do país.

Ali, o time pousou, embarcou em vans até a cidade brasileira de Epitaciolândia (AC) para resolver questões de documentação e voltou a Cobija. Então, enfim, embarcou a Barranquilla.

À reportagem, o ex-goleiro Jakson Follmann afirmou que a viagem foi muito desgastante. “Você pega um voo fretado para chegar antes, mais tranquilo. Sabíamos que era longe, mas a gente levou quase dois dias para chegar”, contou. A Chape perdeu o jogo na Colômbia por 1 a 0, mas venceu por 3 a 0 a volta na Arena Condá.

Após a tragédia, o vice-presidente jurídico da Chapecoense, Luiz Antônio Pallaoro, afirmou em entrevista coletiva que a viagem do clube a Barranquilla na ocasião havia ocorrido sem problemas.

À reportagem, porém, afirmou que o clube contratou de novo o voo por apostar na “mística” do futebol, já que dera sorte no confronto das quartas.

Citado pela apuração da CNN, o MPF (Ministério Público Federal) em Chapecó não identificou “qualquer conduta negligente por parte de dirigentes da Chapecoense”. Com informações da Folhapress.