Se te perguntassem qual a sua série favorita da Netflix, tenho certeza de que não seria difícil responder. Agora, imagine acompanhar uma série de perto e depois ser chamado para trabalhar nela. O que poderia ser um sonho, aconteceu de verdade com o escritor e dramaturgo baiano Ian Fraser, que fez parte da equipe de consultores para a segunda temporada da série “Cidade Invisível”, original da Netflix que tem o folclore brasileiro como pano de fundo.

Metro1 conversou com Ian Fraser sobre o trabalho e, segundo ele, as lembranças são só positivas: “É uma série que movimentou muito as pessoas não só no Brasil, mas lá fora. E mostra que querem ver o Brasil através de outras perspectivas, das representações tradicionais. Que não sejam só Carnaval, praia, futebol”, avaliou o consultor.

Formado em Cinema, Ian encontrou seu caminho profissional na literatura e foi justamente por aí que começou sua relação com o folclore brasileiro, bastante anterior ao trabalho na gigante dos streamings. O baiano é o autor do “Araruama”, publicado em 2017, e que coloca figuras do folclore no convívio com a cidade e com os moradores de Salvador. A premissa é semelhante àquela que depois foi utilizada pela série da Netflix. Para o livro, o dramaturgo foi conversar com membros do Folclore BR, coletivo que estuda o tema, e logo depois foi convidado para fazer parte do grupo.

Foi justamente o coletivo, idealizado por Anderson Awvas, que foi convidado pela Netflix para a consultoria. “Como era um tema que está muito ligado com a nossa pesquisa, fizemos uma cobertura realmente diferenciada. No final, o nosso material ficou maior, no número de horas, do que a própria primeira temporada da série”, lembrou o escritor.

O grupo – formado por Ian, Anderson, Andriolli Costa, Lorena Herrero e Mikael Quites – trabalhou junto em 2022 no processo de construção das referências do folclore que seriam utilizadas no roteiro. Com limitações do que pode revelar sobre os bastidores, por questões contratuais, Ian relembrou que houve incontáveis horas de reuniões virtuais. “A ideia era dar informações que ajudassem os roteiristas a criar as histórias com situações que chegassem mais perto de como essas figuras são na cultura popular”, disse ele.

A consultoria foi dividida em etapas. Primeiro, os consultores receberam uma ideia geral do que seria a temporada, de maneira mais aberta, sem uma trama delimitada, para que um material inicial de referências fosse enviado. Depois, começaram a trabalhar com as chamadas escaletas – espécie de prévia dos roteiros. Em seguida, o texto começou a se tornar mais específico.

Ao todo, o processo envolveu sete idas e vindas do material entre os consultores e a Netflix. A cada novo envio, os roteiros iam ficando mais detalhados, com o surgimento inclusive de alguns diálogos. A segunda temporada da série, com o trabalho de Ian e seus colegas, estreou mundialmente no fim de março e já atingiu, novamente, o top 10 do streaming em vários países do mundo.

Agora, de volta como espectador, Ian segue celebrando a representação do folclore do Brasil para o mundo. “Cidade Invisível foca mais nas entidades, mas as manifestações folclóricas são variadas, tem folclore em tudo. Todo ano, por exemplo, quando a gente vê aquelas matérias que mostram as pessoas colocando o Santo Antônio de cabeça para baixo, isso é folclore. Não está nos dogmas religiosos. Foi o povo que pensou isso e que deixou essa tradição viva. Onde tem povo, tem folclore”, ressaltou.