“A prisão preventiva de Adriana Ancelmo permitirá pôr termo ao ‘ciclo delitivo’ da organização criminosa e da lavagem e ocultação de ativos ora apontados, empreendida de forma disseminada e ostensiva pelos envolvidos.” A frase finaliza a decisão de 20 páginas do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, para tirar a liberdade da ex-primeira dama do Rio de Janeiro, 19 dias após a prisão de seu marido, o ex-governador Sérgio Cabral.

Levada à sede da Polícia Federal no Rio, Adriana Ancelmo preferiu se calar e só falará em juízo. No início da noite de terça (06), a ex-primeira-dama foi dirigida ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito e de lá seguirá para o presídio feminino Joaquim Teixeira, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. Cabral está preso na cadeia Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, no mesmo complexo.

A fundamentação do magistrado considerou que o Ministério Público Federal apresentou elementos robustos da participação da advogada no esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio adquirido pelo esquema criminoso comandado pelo marido. Um dos exemplos citados pelo juiz foi o sistema de recebimento de dinheiro em espécie, que chegava a R$ 300 mil semanais, levados dentro de mochilas e entregues no escritório de Adriana, o Ancelmo Advogados.

Um dos depoimentos mais importantes para isso foi da gerente financeira do escritório, Michelle Tomaz Pinto, que durante anos trabalhou como secretária da ex-primeira-dama. Ela contou em depoimento à Polícia Federal que o dinheiro era entregue por Luiz Carlos Bezerra, um dos mais próximos assessores de Cabral e apanhador das propinas do governador, de acordo com as investigações.

Relação – O curioso é que apesar de comprovada sua íntima relação com Luiz Carlos Bezerra, Adriana Ancelmo, em depoimento, disse desconhecer o envolvimento dele com a contabilidade de sua família.

Nas investigações os agentes descobriram que Bezerra esteve ao menos 19 vezes no escritório e manteve contato telefônico com a primeira dama 98 vezes. O MPF conseguiu mostrar ainda que os gastos mensais da família de Cabral com cartão de crédito variavam entre R$ 30 mil e R$ 300 mil.