No ciclo do Natal, celebramos o mistério pascal de Cristo em suas primeiras manifestações. Nele fazemos memória da vinda salvífica do Senhor, da sua manifestação na fragilidade de nossa carne, na contingência e contradições de nossa história, enquanto aguardamos seu novo Natal, seu Reino, sua vinda definitiva e gloriosa no fim dos tempos.
Como lemos no Guia Litúrgico Pastoral, tempo do Natal “é a comemoração do nascimento do Senhor, em que celebramos a ‘troca de dons entre o céu e a terra’, pedindo que possamos ‘participar da divindade daquele que uniu ao Pai a nossa humanidade’. Na Epifania, celebramos a manifestação de Jesus Cristo, Filho de Deus, ‘luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação’”.
ADVENTO: “Jesus Cristo ontem, hoje e sempre!”
1. Sentido teológico
Com quatro semanas antecedendo o Natal, o Advento, próprio do Ocidente, tem sua origem desde o século IV. É um tempo que nos coloca em permanente expectativa da vinda, da manifestação de Deus e de seu Reino em nossa realidade. Abre-nos para o encontro com o Senhor que vem nos acontecimentos da vida, particularmente, no momento celebrativo, comemorando o Senhor que veio e fazendo-nos dar um passo à frente ao encontro do Senhor que virá glorioso, quando seu Reino estiver plenamente estabelecido entre nós.
Essa manifestação se dá em dois aspectos: a manifestação em nossa carne ao nascer, que constitui sua primeira vinda, e sua manifestação gloriosa, no fim dos tempos, sua segunda vinda.
Este duplo sentido determina a organização do Advento: o Advento escatológico, que vai do primeiro domingo do Advento ao dia 16 de dezembro e cuja liturgia nos inflama para a vinda final de Cristo; o Advento natalício, como preparação mais imediata para a festa do Natal, do dia 17 ao dia 24 de dezembro.
Os textos bíblicos propostos para os domingos deste tempo fazem emergir este duplo caráter do Advento. Assim, o primeiro domingo orienta para a vinda final, o segundo e o terceiro chamam atenção para a vinda cotidiana do Senhor; o quarto domingo prepara-nos para o nascimento de Cristo, ao mesmo tempo apresentando seu sentido e sua história.
Também os textos eucológicos (coletas, prefácios) acentuam as vindas do Senhor, seja na encarnação, seja na parusia, como juiz e senhor, em íntima relação entre si, como expressão de um único mistério: a vinda do Senhor e seu Reino, já iniciada, mas, aguardando sua plena realização, no final dos tempos (At 1,11).
Recordamos no Advento a grande verdade de que nossa história, com todos os seus dramas, contradições, conquistas e retrocessos é o lugar da atuação salvífica de Deus, para quem nada é impossível: aterrar vales, aplainar montanhas, fazer florir desertos, fazer conviver leões e cordeiros; transformar armas de guerra em instrumentos de trabalho e cultivo de vida.
2. Dimensão espiritual
Nesse período, conduzidos por grandes figuras bíblicas, como Isaías, João Batista, Maria, José, Isabel, Zacarias, modelos dos pobres que esperam e confiam nas promessas de Deus, entramos em ritmo mais intenso de espera e esperança, de alegre e cuidadosa vigilância, como uma noiva que se enfeita, ansiosa e feliz, para a chegada de seu amado, como um incansável vigia anseia pelo amanhecer, como a terra seca deseja ardentemente a chuva benfazeja para o germinar das sementes.

De modo semelhante ao que ocorreu com Maria, o Espírito nos engravida da Palavra, fazendo crescer em nós uma atitude de humilde expectativa, de fé comprometida com a força escondida da vida, na certeza de um novo parto da salvação em nosso tempo, ainda tão marcado por decepções, desesperanças e incertezas.
Aguardamos a chegada do Senhor, aguçando nossa sensibilidade para perceber os inúmeros sinais que revelam a transparência de Deus em nossa realidade.
Abrindo-nos à contemplação do mistério da encarnação, a liturgia vem ao encontro de nossa busca fundamental. Somos seres de desejo, inacabados, com sonhos de ser sempre mais, grávidos da utopia do Reino. O conjunto das celebrações nos mantém acordados e vigilantes, buscando a perfeição, para que as múltiplas vindas do Senhor hoje nos encontrem humildemente despojados, confiantes e repletos dos frutos da justiça.
A mística do Advento nos move também a cultivar uma atitude nova diante da realidade humana e cósmica, intensifica nosso desejo de felicidade plena, de relações fraternas verdadeiras e duradouras, e fortalece nossa vocação de testemunhas da esperança, superando todo o pessimismo e desencanto que nos possam abater. Um acúmulo de desejos fará apressar a vinda do Reino, com nosso engajamento solidário nas lutas pela defesa da vida, pela transformação do mundo, em que todos sejamos, igualitariamente, livres e felizes.
Neste tempo, em que a religião do mercado faz das festas natalinas, o grande sacramento do lucro, somos convidados a proclamar profeticamente que o Senhor está chegando como libertador. Seus sinais se manifestam diariamente, nas lutas dos pobres e de todos os que com eles se fazem solidários na busca de melhores condições de vida, de dignidade humana, de paz universal e de preservação da natureza.
Não só nós, cristãos, mas toda a humanidade e a criação inteira estão em clima de Advento, de ansiosa espera. Aguardam a manifestação cada vez mais visível do Reino de Deus em que “justiça e paz se abracem”, todos os povos e culturas desabrochem felizes e reconciliados e toda “a terra se abra ao amor”.

Toda a celebração cristã é uma contínua vinda do Senhor para nossa vida pessoal, a nossa comunidade e a nossa história. Ele vem ao nosso encontro no presente e no futuro, como veio no passado. Ele é caminheiro fiel na grande peregrinação que fazemos rumo à casa do Pai. Ele é o Emanuel, o Deus-conosco com quem descobrimos sempre de novo quem somos, o que queremos e para onde vamos.
3. Elementos simbólicos e rituais
Alguns símbolos, gestos e ações simbólico-rituais expressam intensamente a verdade dessa espera em nossas celebrações.
3.1 – O símbolo principal é a Eucaristia, o sacramento da espera: “até que ele venha”.
3.2 – A Palavra (o Verbo!). Advento é tempo especial de escuta, de atenção, de “gravidez” da Palavra: que o Verbo se faça carne em nós! Todo o rito da Palavra merece destaque: o uso do livro, Bíblia ou o Lecionário com fitas coloridas, levado em procissão, beijado, incensado; cuidado de preparar bem a proclamação dos vários textos bíblicos, canto do salmo, tornando-os vivos, bem compreendidos para serem bem acolhidos pela comunidade. E mais: fazer da proclamação um ato sacramental, pelo qual o próprio Deus fale, convocando seu povo à vivência de seu projeto; o silêncio após cada leitura, após a homilia, para “guardar no coração” a boa notícia e o apelo amoroso de Deus.
3.3 – A comunidade reunida para a oração, para a escuta da Palavra e para a ação de graças é sinal sacramental da espera e da chegada do Senhor. Onde dois ou três estiverem reunidos, o Senhor está presente (Mt 18,20)! Os ritos iniciais, constituindo a assembleia, o corpo vivo do Senhor, com acolhida bem afetuosa às pessoas, permitem reconhecer em cada uma delas a presença do Senhor que chega entre nós. O Advento é tempo oportuno de aprofundar e melhorar nossas relações e nossa convivência na família, na comunidade, na vizinhança, como sinal visível da chegada do Reino entre nós. A esperança se reacende quando relações novas e fraternas se estabelecem entre as pessoas.
3.4 – “Cantar o Advento”! Os cantos e as músicas têm papel importante, evocando os temas bíblicos aprofundados, as experiências vividas, os sentimentos de espera, de expectativa pela vinda do Reino. O Hinário Litúrgico, 10 fascículo, apresenta um bom repertório dos cantos para este tempo. “Cantando os salmos e poemas dos profetas e evangelistas de ontem e de hoje, resgatando até, com novo sabor e vibração, as antigas antífonas do ‘Ó’, com certeza aprofundaremos a nossa fé, reacenderemos a nossa esperança e prepararemos momentos autênticos e gostosos de confraternização”.
O canto do Glória, antigo hino natalino é omitido, ficando reservado para o tempo do Natal.
3.5 – O diretório litúrgico indica o roxo como cor litúrgica deste tempo. Porém, a cor rósea ou violácea, indicada para o terceiro domingo, tem sido usada por muitas comunidades, em todo o tempo do Advento: traz aos olhos e ao coração, o sentido de uma alegre espera, diferenciando do sentido mais quaresmal do roxo.
3.6 – A coroa do Advento, feita com ramos verdes, com as quatro velas que progressivamente se acendem, com um rito apropriado, no início da celebração, retoma o costume judaico de celebrar a vinda da luz à humanidade dispersa pelos quatro pontos cardeais, expressa nossa prontidão e abertura ao Senhor que vem e quer nos encontrar acordados e com nossas lâmpadas acesas.
3.7 – Entre os textos eucológicos (orações, prefácios) deste tempo, a aclamação litúrgica “Vem, Senhor Jesus!” torna-se a grande súplica, o forte clamor das comunidades, em preces, refrãos e antífonas. O Missal Romano, p. 519, propõe uma bênção própria para o Advento.
3.8 – A Novena de Natal, feita em grupos, há anos realizada em todo o Brasil, é uma maneira de intensificar a espera e alimentar a esperança da libertação com cantos, orações, meditação da Palavra, gestos de solidariedade e compromisso com os mais pobres, montagem do presépio e momentos de confraternização. Neste sentido, a Novena preparada pela Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia e o Ofício Divino das Comunidades tem sido uma feliz referência para este momento tão valorizado pelas comunidades.

3.9 – As celebrações de reconciliação e penitência durante o tempo do Advento possibilitam às comunidades um caminho de conversão e retomada do projeto de jesus.’
4. Advento e Ano Mariano
O Advento é tempo de Maria, a Virgem da Espera, por excelência. A mobilização do Advento e Natal ganha particular destaque na celebração do “Ano Mariano”, definido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ano a ser celebrado de 12 de outubro de 2016 a 11 de outubro de 2017, tendo em vista os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
5. Advento e Campanha da Evangelização
A Campanha da Evangelização tem como objetivo despertar a corresponsabilidade de todos na obra da ação evangelizadora; conscientizar para o compromisso evangelizador e para a responsabilidade pela sustentação das atividades pastorais; ajudar a superar a mentalidade individualista e a visão subjetiva da religião por uma atitude solidária, voltada para o bem comum; propor a vivência de uma fé adulta, testemunhada em atitudes e ações correntes de conversão pessoal permanente e de transformação social segundo as exigências evangélicas; garantir que a Igreja tenha recursos para fazer o trabalho da evangelização seja nas regiões pobres, como a Amazônia e a periferia das grandes cidades, ou nas ações mais estratégicas, como a realização de grandes encontros nacionais e ajudar na manutenção da própria
CNBB com seu Secretariado Geral e seus Secretariados Regionais.
A Coleta da Campanha da Evangelização acontecerá nos dias 10 e 11 de dezembro de 2016, terceiro domingo do Advento.