A pandemia do coronavírus além de causar dor, sofrimento em torno da doença e morte de entes queridos vem também destruindo a economia brasileira. Pelo segundo ano consecutivo, o tradicional São João novamente não será realizado, frustrando a movimentação cultural, turística e de geração de empregos em toda a Bahia. Segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI-BA), não existem estudos atuais que mostram os números dessas perdas. Porém, de acordo com Gustavo Casseb Pessoti, vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-Ba), levando em consideração somente o Carnaval, que se concentra em uma única cidade e impacta em uma movimentação de R$ 2 bilhões pode se imaginar o que a festa junina significa na economia do Estado. No varejo, ano passado, as perdas financeiras foram de R$400 milhões, já em relação aos hotéis, o faturamento perdido ficou em torno de R$120 milhões.
“O São João é um evento cultural muito importante para a região nordeste, grande centro de atração de turismo como gerador de emprego e renda. É difícil precisar exatamente a quantidade de atividades que movimenta. Tem toda uma cadeia produtiva jusante e montante da festa. Diferente do carnaval restrito a Salvador. Como podemos perceber através de um estudo lançado neste ano de 2021 pela SEI, a não realização do Carnaval em Salvador impacta em R$ 2 bilhões, no caso do São João, que não é restrito a capital, ou seja apenas uma cidade, imagina a abrangência das perdas”, destaca Pessoti.
O economista Casseb Pessoti ainda destaca que, “embora o Carnaval tenha mais dias, em alguns locais o festejo junino realiza grandes festas durante toda uma semana com grandes atrações contratadas pelas prefeituras Existem ainda as grandes atrações em festas privadas que aglutinam público de 500 mil pessoas. As cinquenta ( 50) maiores privadas até 2019 reuniam 500 mil pessoas em toda a Bahia. Quando eu era diretor de indicadores de estatísticas da SEI onde atuei até 2020, lembro de um estudo coordenado para mensurar os impactos da festa, mas é difícil obter uma informação precisa dessa pesquisa, muitos setores envolvidos”.
Gustavo finaliza, “os festejos culturais tem uma movimentação financeira em todos os municípios da Bahia aproximadamente em torno de R$960 milhões. Isso foi estimado em 2019 apenas com montagem de palcos, banheiros químicos, contratação de bandas movimentando para todas as cidades e municípios da Bahia. A não realização significa uma perda de quase um bilhão. Se adicionar festas privadas, bebidas ,transportes, arranjo, segurança o montante será consideravelmente superior à perda que o Carnaval oferece para a Bahia . Se trata de uma perda representativa cultural, turística e pela movimentação e geração de empregos para o Estado. No Nordeste é um evento mais importante que o Carnaval. Leva conhecimento cultural, atrações para pequenas localidades como Ibicuí, Santo Antônio de Jesus e Cruz das Almas”.
O consultor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), Guilherme Dietze , lamenta: “O São João é uma comemoração importante para a economia local. Ano passado tivemos uma queda no varejo de 32%, em relação a junho de 2019 , um prejuízo de quase R$400 milhões. Mexe com o setor de mercado, vestuário, roupas típicas, porque no São João as pessoas fazem festinhas em casa que também levam ao consumo. As pessoas compram adereços e enfeitam suas casas para a data . Esse ano deve ficar perto disso, mas ano passado as atividades estavam praticamente todas fechadas, esse ano temos uma certa reabertura então podemos ter uma melhora. Não temos os dados para junho de projeção, mas no mínimo teremos uma queda de 15% em relação a 2019, diante do atual cenário. As aglomerações ainda estão restritas. É uma perda para a economia de todo o Nordeste. Por mais que dados de março tenham apresentado saldo positivo em torno de 13,5%, em relação a março do ano passado, mas a base de comparação do 2020 é muito fraca pois foi quando começou o auge da crise. Estamos melhor que o ano passado, mas pior que no período pré-pandemia.
De acordo com Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (ABIH), a previsão de ocupação dos hotéis para junho é muito baixa, ao redor de 20%, como vem ocorrendo desde março desde ano. Um impacto muito forte para a economia. Muitos municípios têm no evento um momento forte para a movimentação financeira, principalmente pequenos hotéis e pousadas. Ano passado tivemos uma redução no faturamento geral em torno de R$120 milhões nesse período, que praticamente ocorre entre 10 dias entre 20 a 30 de junho, porque emenda com São Pedro. Não temos muito o que fazer diante dessa pandemia, o São João é uma festa de contato, aglomeração.Período difícil para reverter a situação com cerca de 430 mil mortos pela doença no Brasil. O que podemos fazer é divulgar o destino de Salvador para outros estados, para manter o fluxo de turista, o mínimo possível”.
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