Estamos vivenciando uma mudança de época, mais do que época de mudanças. Com as motivações do Papa Francisco de uma “Igreja em saída” e com a eclesiologia apresentada pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2015-2019), Igreja discípula, missionária, profética e misericordiosa, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, precisamos entender e ir ao encontro das gerações para que possamos estar em estado permanente de missão.
Na história da humanidade, percebiam-se transformações nas gerações que a cada ¼ de século, desde quando, no século XVIII, se começou a catalogar e registrar este fato. Atualmente, esta percepção baixou para 10 anos. Penso que, com avanço da ciência (saber) e da tecnologia (fazer), esse intervalo poderá ser reduzido ainda mais.
Assim são denominadas e catalogadas as gerações: Geração Perdida (1883 – 1900); Geração Grandiosa (1901 – 1924); Geração Silenciosa (1925 – 1942); Geração Baby Boomers (1946 – 1964); Geração X (1965 – 1978); Geração Y (1979 – 1992); Geração Z (1993 – 2006) e, recentemente, fala-se em Geração T (Touch) ou Geração Alpha ou M (2006 ou 2010…
De acordo com a população do Brasil de 190.755.799 (censo 2010 – IBGE) as gerações tradicionalistas são 8%, Baby Boomers 19%, Geração X 22%, a Geração Y 36% (68 milhões) e Geração Z 15%.
Para que nossa ação evangelizadora seja eficaz precisamos conhecer o perfil das gerações: seus valores, seu estilo de vida, suas expectativas e saber que são resultado de acontecimentos e de ideias que as influenciam profundamente (Exemplificando: a geração do começo do carro não é a mesma do carro hoje; a geração do cinema e rádio; do rádio e televisão. A complexidade é grande demais!).
Em 1883 começou-se a classificar as gerações. No período de 1883 a 1900, deparamos com a “Geração Perdida”, isto é, o período de muitas celebridades e de importantes obras literárias, com destaque à americana. O auge desta geração se deu em Paris e em grande parte da Europa. Ela é conhecida como “perdida” porque o seu colapso ocorreu com a Primeira Guerra Mundial.
No início do século XX, entre os anos de 1901 a 1924, surgiu a “Geração Grandiosa”. São os filhos dos sobreviventes da Primeira Guerra Mundial. Os pais dessa geração tornaram-se imigrantes pelo mundo. É uma geração marcada por pessoas extraordinariamente inteligentes e bem sucedidas. Ex: Walter Elias Disney e Roberto Marinho. Empreendedores num momento caótico e instável.
Entre os anos de 1925 a 1942, temos a “Geração Silenciosa”. Esta geração teve como foco a família. A mulher tinha que dedicar boa parte de sua vida a esse ideal, abdicando, assim, de sua liberdade. Dedicava-se aos filhos, às funções da casa e ao cuidado do marido. Também, neste período, a mulher conquistou direito ao voto, à escolarização e começou sua inserção no mercado de trabalho. As famílias eram numerosas. O casamento era cedo e os relacionamentos eram para sempre.
Na década de 40, terminou a Segunda Grande Guerra Mundial e houve uma explosão populacional, denominada baby boomers. As pessoas querem a paz, o amor e uma condição de vida pessoal e profissional que leve a uma boa estabilidade e nada de conflitos. Valorizam a experiência e o saber e se preocupam com a família para construir uma história sólida, estável e segura.
Nos anos 60, começou a surgir uma geração resistente ou duvidosa quanto a tudo que parecia novidade, denominada geração X. A letra X é meramente casual. Apenas para preencher uma lacuna. As pessoas começam a se preocupar com uso dos recursos tecnológicos gerados pela geração baby boomers. Surge o movimento hippie e a revolução sexual com objetivo de lutar pela paz e pela liberdade. Esta geração tem uma resistência no modo de trabalhar. As pessoas se apegam aos títulos, posições, hierarquia, valorizam a carreira profissional e méritos. A tecnologia começa a fazer parte do cotidiano das pessoas levando ao apego das coisas e situações. A geração X sofreu com o estigma de que quando as pessoas passavam dos 40 anos já não eram consideradas aptas ao mercado profissional por serem consideras velhas.
Na década de 70, cria-se a internet. Novos paradigmas, novos valores, novas vontades começam a surgir. As pessoas desta geração vivem a Revolução Tecnológica. A globalização e a diversidade fazem parte do cotidiano das pessoas. Pensam fora da caixa. A geração Y passou a ser mais egoísta, a viver de forma mais individualizada e a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Um desejo constante de se viver novas experiências e conquistar uma ascensão profissional rápida. Esta geração prefere o movimento. Quer consumir. Há quem prefira investir no patrimônio e quem opta por usar o dinheiro para gerar mais status. São jovens que mobilizam, querem mudar o mundo, ser diferentes, mas preferem seguir vivendo com seus pais.
A geração Z é formada por jovens contemporâneos, ligados à realidade virtual desde o início de seu aprendizado. Apresentam um perfil mais imediatista, que querem tudo para agora e que não têm paciência com os mais velhos. Esta geração consome informações, tecnologia e cultura. Estão atentos e antenados a tudo o que pode ser bom e também ruim. Querem a paz, nada de conflito. Sabem aproveitar todos os benefícios. Tem poder mais crítico e realizam muitas coisas com bem menos dificuldades. Tornam pessoas dispersas e hiperativas. Pensam de maneira diferente. As pessoas desta geração conversam normalmente, mas o cérebro desta geração Z conta de um até três, pulando o dois. São criativos. Fazem várias tarefas ao mesmo tempo.
Atualmente, fala-se em geração T, geração touch, denominação melhor do que Alpha ou M. É a geração em que as pessoas têm o mundo na ponta dos dedos. A geração dos aplicativos. Os dedos passam a ser a extensão do pensamento. Num écran tátil, as pessoas têm acesso a todo tipo de informação, respostas, experiências, conhecimentos. Com os écrans táteis como celular, ipad, iphone, tabletes, conectados à internet, carregamos no bolso as amizades, a escola, o trabalho e uma fonte inesgotável de conhecimento. A tecnologia touch permite a interação com aplicativos de jogos, leitura, escrita, filmes, desenhos, dados, histórias. O toque tem efeito visual e atrativo. Os aparelhos são portáteis e intuitivos. Emana deles uma luz inebriante, emitem sons divertidos e revelam-se extremamente interativos.
Na exortação apostólica Evangelii Gaudium o Papa Francisco apresenta seis pistas de como evangelizar esta variedade de gerações, apresentando um pilar como máxima: “a unidade prevalece sobre o conflito” (cf. nn. 226-230). São pistas que devem ser levadas em conta na evangelização com a presença de múltiplas gerações, interagindo no contexto social.
1. O conflito faz parte da vida eclesial como faz também parte de gerações que convivem ao mesmo tempo: silenciosas, baby boomers, X, Y, Z, T. No cotidiano eclesial, deparamos com estas gerações e seus perfis.
2. Devemos aceitar e suportar o conflito de gerações e transformá-lo em elo de um novo processo.
3. Precisamos trabalhar com as gerações para construir situações de comunhão e reconciliação, superando tanto os oportunismos como as polarizações estéreis.
4. A unidade e a comunhão nas gerações devem estar acima de qualquer divisão.
5. Nas gerações existem anseios diferentes, mas a experiência de unidade deve prevalecer.
6. Devemos superar os conflitos de geração, a partir de uma cultura da solidariedade, mantendo a unidade entre as pessoas, comunidades diferentes numa pastoral do encontro.