A União Europeia (UE) e a Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac) anunciaram na terça-feira que farão uma cúpula em julho em Bruxelas, capital da Bélgica. O anúncio veio ao fim da reunião que marcou o retorno do Brasil ao grupo regional após quatro anos de afastamento durante o governo de Jair Bolsonaro.

Segundo um comunicado do Conselho Europeu, órgão que reúne os chefes de Estado dos 27 países-membros, o encontro será entre os dias 17 e 18 de julho. O chefe do órgão europeu, Charles Michel, viajou para a Argentina para o encontro da Celac e teve na quarta uma bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A Cúpula UE-Celac fortalecerá ainda mais a associação birregional da UE e dos países da Celac em prioridades compartilhadas como as transições digital e verde, a luta contra as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade, saúde, segurança alimentar, migração, segurança, governança e a luta contra o crime transnacional”, diz a declaração europeia.

Quando a cúpula acontecer, o comando do bloco europeu estará temporariamente ocupado pela Espanha, que já havia previamente anunciado planos de realizar um encontro dos líderes de ambos blocos. A data, contudo, ainda era uma incógnita e especulava-se que pudesse ser em Madri.

Os chefes de Estado da América Latina e do Caribe se reúnem periodicamente com os pares da UE desde 1999, antes mesmo da Celac existir formalmente, quando tiveram um encontro no Rio. A oitava última reunião presencial foi em 2015 em Bruxelas. Houve um encontro on-line em dezembro de 2021, com a participação de Bolsonaro, cuja política externa menosprezou a região e iniciativas multilaterais.

Formada por 33 países, a Celac tem, entre seus objetivos, a promoção do diálogo político, da concertação e da cooperação regional em um conjunto amplo de temas. Entre eles, segurança alimentar e energética, saúde, inclusão social, desenvolvimento sustentável, transformação digital e infraestrutura para a integração.

Sua concepção ganhou formas em 2008, na Costa do Sauípe, quando o Brasil sediou a 1ª Cúpula de Países da América Latina e Caribe (Calc). Foi formalizada em fevereiro de 2010, mesmo ano em que os países da região e a UE criaram a Fundação Internacional UE-ALC, organização cujo fim é fortalecer e promover a parceria estratégica entre as organizações, melhorar sua visibilidade e incentivar a participação das sociedades civis de ambos os lados do Atlântico.

Após encontrar-se com Lula, Charles Michel, o presidente do Conselho Europeu, pediu nesta quarta-feira que Lula aproveite para impulsionar a finalização do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a UE. Negociado por mais de 20 anos, os dois blocos chegaram a um consenso em 2019, mas a ratificação tem se provado complexa frente à multiplicidade de interesses em jogo.

Segundo Michel, um “aspecto importante” da relação entre Bruxelas e Brasília é o acordo comercial com o Mercosul. Por meio de um porta-voz, o Conselho Europeu disse que seu chefe pediu que Lula “use este momento político para finalizar o acordo e reviver o tratado comercial com o Mercosul”.

Nesta quinta, Lula vai ao Uruguai justamente tentar convencer Montevidéu a não assinar um acordo de livre-comércio com a China, que é visto como uma ameaça para o Mercosul pois pode inundar a região com produtos chineses. A negociação bilateral, que abriria portas para transações com tarifas mais baixas, abalaria especialmente a indústria do bloco econômico, que tem como seus principais clientes Brasil e Argentina.

A expectativa é de que as atenções de Brasília se voltem para a região sob o comando de Lula, que em sua fala na terça na Celac disse que a sensação da volta do Brasil, após Bolsonaro tirar o país da comunidade em 2019, é de “quem se reencontra consigo mesmo”. O presidente agradeceu ainda ao apoio regional após os atos golpistas de 8 de janeiro.

Durante seu encontro com Lula, Michel parabenizou o petista por sua vitória e reforçou seu apoio à democracia brasileira após os atentados contra os Três Poderes. A dupla também discutiu assuntos internacionais como a guerra na Ucrânia, disse a nota europeia. Em seu comunicado, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência afirmou que Lula tratou de temas como a liderança e a autonomia dos órgãos extragovernamentais:

“O presidente Lula mais uma vez enfatizou a importância de ter mudança na governança global que torne os órgãos multilaterais capazes de tomar decisões que sejam respeitadas. Para isso, que seja uma organização ou órgãos que tenham legitimidade. Ele frisou bastante a palavra legitimidade e Charles Michel não descordou”, diz a nota da Secom.