No MeetUp Empreendedorismo e Inovação promovido pela Prefeitura de Ilhéus nesta última segunda-feira, 4, a secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (SDE) levou para dentro do centro administrativo, a universidade e a iniciativa privada com duas palestras ricas em conhecimento para quem sabe a real necessidade de desenvolver negócios, atualizando a visão das empresas diante da presente era tecnológica.

 

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Com a presença de estudantes representantes de escolas juniors da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), professoras e corpo pedagógico da secretaria municipal de Educação, com a presença da titular da pasta Eliane Oliveira, o evento, mediado pelo Gerente de Inovação da SDE, Lucas Mota, contou com a abordagem inicial do professor da Uesc e Coordenador do Espaço Colaborar no Cepedi, Alfredo Dib, e com as palestras de Leka Hattori sobre Empreendedorismo Feminino, e do docente Gesil Sampaio, sobre Fomento à Inovação.

 

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De acordo com o Gerente de Inovação Lucas Mota, o objetivo é construir um futuro próspero e inovador. “Nosso intuito é promover o diálogo e fortalecer o ecossistema local de inovação para que mais ações como estas aconteçam. Levando o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico para toda a sociedade”, declarou. Todo o conhecimento gerado foi transmitido pelo canal do Youtube da Prefeitura de Ilhéus, e as palestras podem ser acessadas pelo link https://www.youtube.com/watch?v=2flaXobtrrU .

 

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Sobre as abordagens apresentadas no MeetUp, a redação conversou com os palestrantes, o professor Gesil Sampaio, que é presidente do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (FORTEC) e professor titular da UESC, e com Leka Hattori, Astronauta Análoga, Administradora, Chefe de Cozinha Internacional, Empreendedora, e Local Lead Nasa Space Challenge. Por meio de uma entrevista exclusiva, com interesse em aprofundar conhecimentos, confira na íntegra e a seguir os pontos mais relevantes trazidos nas palestras.

Entrevista com o professor Gesil Sampaio

 

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Redação – Qual abordagem pode fazer sobre empreendedorismo e as fontes de recursos e financiamentos, bem como sobre o desafio do empreendedor apresentar uma solução por meio do diagnóstico de uma dor da sociedade?

Professor Gesil Sampaio – Vivemos em um mundo e em um país onde os recursos estão sendo muito disputados. Mas sempre é importante a gente perceber que o maior mercado vai estar onde a maior parte das pessoas vai sentir necessidade da solução que você está apresentando.

Então, quando a gente pensa em buscar recursos para iniciativas de empreendedorismo com base em conhecimento, não é empreendedorismo simplesmente por necessidade, mas por oportunidade derivada da nossa criatividade.

É importante a gente pensar: “quantas pessoas precisam daquilo que eu estou propondo, que estou criando?” Se você consegue imaginar uma solução para um problema que as pessoas têm, você não vai ficar sem mercado para crescer.

Mesmo quando a gente pensa soluções que demandam um certo investimento inicial que a gente não tem, você tem que captar recursos de outras fontes. Para que esses investimentos cheguem, é muito importante que você saiba o que você está falando, tenha conhecimentos técnicos para a solução atingir o máximo de pessoas possível. Quanto menos restrito, melhor. No fundo, inovar é tentar resolver problemas das pessoas. Essa inovação é a que tem a maior chance de ter sucesso.

Redação – O senhor falou muito a respeito desse momento, em que a partir de agora, ou são feitos investimentos em pesquisa para transformar conhecimento em negócios, ou o nosso país vai empobrecer. Então, para as pessoas que estão buscando algo novo, que querem realmente fazer a diferença no mundo em que vivem, qual mensagem o senhor pode trazer?

Professor Gesil Sampaio – Nosso país tem muita experiência do resultado de basear a nossa economia em produtos de baixo valor agregado, com baixo conteúdo de conhecimento. Isso manteve o nosso país essencialmente limitado.

Se a gente analisa a experiência de vários outros vários países, como a Holanda, vemos que é o segundo país do mundo que ganha mais dinheiro com produtos agro, e que tem o território do tamanhinho do Estado de Alagoas. Eles ganham tanto dinheiro, não porque eles são melhores, mas porque fizeram escolhas melhores. Ao invés de exportar produtos com baixo valor agregado, a Holanda só exporta produtos finais com o máximo de agregação de conhecimento possível. Se eles conseguem fazer isso sem recursos naturais, sem a água, sem o clima que nós temos, nós conseguimos fazer muito mais. Só que a gente tem que parar de pensar em apenas exportar produtos iniciais, de baixo valor agregado, a gente tem que incluir conhecimento nos nossos produtos e nos nossos serviços.

Então, para quem é jovem e que pensa em ter uma carreira, e que pensa em viver no Brasil, pense em apostar em ser parte do processo de mudança, da situação de um país que essencialmente tem na sua pauta de negócios com o exterior, produtos de baixo valor agregado – em que pessoas ganham muito dinheiro, mas são poucas, a grande maioria tem baixo retorno – para um país em que a economia é mais dependente da capacidade e da criatividade que o povo tem mesmo. Só que não se investe e não se faz disso o objetivo das nossas políticas.

Então, se a gente mudar esse nosso enfoque e pensar “eu preciso agregar mais da minha cabeça naquilo que me faz trazer recurso”, vai todo mundo ganhar. Mas isso depende, de um lado, de políticas públicas focadas em viabilizar e favorecer esse tipo de atitude, e, do outro lado, que as pessoas individualmente tenham essa atitude. As duas coisas precisam acontecer. A gente precisa ter políticas direcionadas a negócios de maior valor agregado, que tragam uma melhor qualitativa da nossa economia, e não apenas produtos básicos, não apenas extrativismo e coisas do tipo. E nós, precisamos ter pessoas tentando dar o melhor de si para que esses negócios aconteçam. Quando essas duas coisas se encontrarem, a gente vai ser um país rico. Se a gente continuar apostando em coisas muito básicas, porque é isso o que os outros querem de nós, a gente não vai muito pra frente não, nós vamos continuar aí, e cada vez vamos aprofundar o nosso histórico de país de pessoas essencialmente pobres.

Entrevista com Leka Hattori

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Redação – Nesse bate-papo aqui hoje, você falou sobre empreendedorismo feminino, e como ainda é pequeno o número de mulheres que empreendem gerando startups. Significaria dizer que há ainda um espaço a ser conquistado pelas mulheres?

Leka Hattori – Essa questão de um número ainda pequeno de startups fundadas por mulheres, abre sim um grande espaço, apesar de todas as dificuldades, de receber investimento etc. Vem aí essa nova leva de mais mulheres na tecnologia, porque as startups precisam ter essa tecnologia da inovação, então tem muito espaço.

O poder público está fazendo a sua parte de fomentar isso. Essa sensibilização de trazer pra perto a universidade, a educação, tem um terreno muito fértil. E aí, é as mulheres terem a iniciativa de se jogar. Vamos fazer, vamos tentar. Com startups você erra e acerta, e rapidamente, para ocupar esse espaço. Temos que correr atrás.

Redação – Sobre o conceito de resiliência psicológica que você abordou, como pode aprofundar mais a respeito do mesmo, associando ao empreendedorismo e à sua atividade de Astronauta Análoga?

Leka Hattori – Essa questão de olhar fora da caixa, essa experiência pelo menos que foi a minha missão de virar astronauta análoga, de você “sair” literalmente da Terra e se concentrar em situações em Marte. Esse exercício de pensar realmente fora da caixa, de você ter que se concentrar lá, deixando as situações da Terra, as situações do dia a dia, que é o que um astronauta tem que fazer, por isso ele tem um preparo psicológico.

Então, essa resiliência psicológica é muito real e muito presente no nosso dia a dia. Principalmente quando você vai para a tomada de decisões no mundo dos negócios, isso é maior ainda pelos diversos fatores externos que a gente não controla, mas que acontecem, então aí o empreendedor tem que estar tomando as decisões de uma forma segura.

A melhor forma mesmo é tentar olhar de fora do problema. Sai de fora do problema e olha. É aí é que você consegue ter os insights e ver um outro ponto de vista, e é bem isso mesmo do astronauta, ver a Terra lá de cima. Então, é muito provocativo, é um exercício muito bom, recomendo fazer essa experiencia psicológica.

Redação – Você também falou sobre o projeto de como pensar o futuro, qual o futuro que nós queremos. Nos conte um pouco sobre a proposta do seu projeto com as escolas.

Leka Hattori – Esse é o meu quinto ano Local Lead Nasa Space Challenge, com resultados fantásticos. Então, a minha reflexão, até porque eu tive estudantes do ensino fundamental na ocasião procurando, a gente precisa dedicar, falar do que falamos de inovação nos ecossistemas, para a base da educação. Para essa nova geração que foi prejudicada por dois anos sem a convivência escolar. A gente nem sabe nem os impactos disso.

Então, acho que a gente tem que se voltar para dentro das escolas, apesar de todas as dificuldades e problemas, mas trazer tudo isso que a gente está vendo de novidade e de diferente, a gente trazer para dentro das escolas.

Claro que o apoio da Embaixada dos Estados Unidos para o meu projeto, me deu essa força, essa energia, quando você tem alguém que acredita e te apoia até financeiramente para começar isso. Quando a gente chega nas escolas e conversa com os professores e estudantes, a gente vê que realmente essa é uma necessidade.

A gente está falando assim, “é relacionado ao hackathon da Nasa, então ‘ah, dá pra dizer então que a Nasa veio para sua escola”. E isso traz o lúdico do que é a Nasa, desperta esses jovens para as questões aeroespaciais, para o que está como profissão nisso, e estimula a ciência. A gente precisa mostrar para esses jovens, as aplicações práticas disso no dia a dia.

Redação – Qual sua avaliação sobre Ilhéus nesse momento com a hélice tríplice do ecossistema de inovação?

Leka Hattori – Ilhéus me chamou muito a atenção pela participação, foi aonde eu conheci Lucas na Câmara de Inovação e Tecnologia dentro da Fecomércio, na qual eu fui convidada a fazer parte como iniciativa privada e isso foi fomentando várias coisas, até que nos encontramos pessoalmente no Startup Summit em Salvador, com a então secretária Soane Galvão. Aí, eu pude entender, ouvindo deles, como está esse momento.

Eu me encanto muito quando o poder público, no caso a Prefeitura de Ilhéus, está nesse momento de fomentar, se atentar como política pública, a inovação, e se volta para o empreendedorismo e tudo isso. Então, para o cidadão, a cidadã, para os estudantes, para as famílias de Ilhéus, é o momento mesmo de abraçar essa oportunidade, e não só reclamar. Então está aí muita coisa acontecendo, esses eventos, a retomada dos eventos presenciais, tem que ser aproveitado porque as oportunidades estão sendo dadas, fomentadas. Agora está um campo fértil para o pessoal partir para a ação mesmo, porque agora depende deles, de criarem, de inovarem, de buscarem outras soluções, startups, quem já tem um negócio mudar pra um dígito melhor. Acho que é isso.